ASSEMBLEIANO E CALVINISTA CONVICTO: UMA ENTREVISTA COM GEREMIAS DO COUTO
Por Gutierres Fernandes Siqueira
O objetivo dessas entrevistas é fomentar um debate sério, com nível elevado e sem o calor irracional característico em muitas redes pela internet. É certamente um momento novo nas Assembleias de Deus, um tempo de discussão entre posições antagônicas, mas sempre com uma postura de cortesia. O Blog Teologia Pentecostal espera que o mesmo tom de civilidade dos entrevistados se mantenha entre os leitores dessas matérias, independente da posição assumida. O meu desejo, como membro desta denominação, é que os debates dentro dela não sejam sobre mesquinhez e disputas de poder, mas sim sobre assuntos importantes da teologia, tradição e ética. Há inúmeros debates que necessitam entrar em nossa pauta, inclusive a “mecânica da soteriologia”. Não é uma conversa trivial, desnecessária, como muitos numa pseudoespiritualidade tentam passar, mas é essencial para o amadurecimento teológico da denominação.
Hoje o teólogo Geremias do Couto nos concede uma entrevista sobre o impacto do crescente calvinismo nas Assembleias de Deus e entre pentecostais de maneira geral, normalmente identificados com o Arminianismo. Ele conta a própria experiência como um pentecostal, pastor assembleiano e calvinista convicto. Como será essa relação?
Geremias do Couto em palestra. Um dos poucos pastores assembleianos de expressão nacional assumidamente calvinista. |
Blog Teologia Pentecostal: Como pastor das Assembleias de Deus, conhecido escritor entre os assembleianos e de uma família de tradição pentecostal, como foi aderir ao Calvinismo? Qual a causa e a circunstância dessa guinada teológica?
Geremias do Couto: Creio que a expressão “aderir” é muito simplificadora, sobretudo para quem constrói a sua história de vida à luz da coerência. Isso foi mais resultado de um processo iniciado ainda na minha adolescência do que uma mudança propriamente dita. Sempre fui questionador e ledor voraz desde quando ainda era criança. Fui da época em que se marcavam os versículos a lápis de cor durante a leitura. Mantenho ainda o mesmo hábito.
TP: Na sua opinião, quais são os motivos que levam inúmeros jovens assembleianos a abraçarem o Calvinismo e a cosmovisão presbiteriana aqui no Brasil?
GC: Algumas razões já apresentei de forma implícita na resposta anterior, como a predominância do semipelagianismo em nossos púlpitos. Esse era o “arminianismo”que nos ensinavam. Mas convém sinalizar que a liderança assembleiana, com as honrosas exceções de praxe, sempre teve uma atitude refratária à educação teológica formal. Temos de ser realistas e encarar o fato sem maquiagem. Não éramos estimulados ao estudo acadêmico. João Kolenda Lemos e Ruth Dorris Lemos pagaram elevado preço para implantar o IBAD – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus, a primeira instituição do gênero nas Assembleias de Deus, localizado em Pindamonhangaba, SP. É só folhear as páginas do Mensageiro da Paz do período, que serão encontrados artigos contrários e favoráveis ao ensino formal. Aliás, essa era uma qualidade que precisa ser exaltada. O Órgão Oficial assembleiano abrigava esse debate. Hoje, infelizmente, isso não mais acontece.
TP: É visível uma reação arminiana entre os pentecostais. Ainda pequena, é bem verdade, mas com um potencial fantástico. Todavia, seria uma reação tardia?
GC: A rigor, a reação arminiana entre os pentecostais é tímida, na defensiva, a não em discussões de grupos no Facebook, onde mais predomina a carnalidade do que um debate sério e consistente entre as duas correntes. O próprio pastor Silas Daniel, na entrevista concedida ao blog, afirmou que sua manifestação era particular, embora contasse com a aprovação da direção superior da CPAD por tratar-se de uma revista institucional destinada aos obreiros da igreja. Mas é bom que essa reação aconteça e posso analisá-la sob duas perspectivas:
- Se o arminianismo for ensinado tal como Armínio o formulou ou com as características wesleyanas, isso permitirá que muitos pentecostais percebam o quão diferente é do semipelagianismo que ainda predomina em muitos púlpitos assembleianos. Quem fez essa excelente observação foi o irmão Clóvis Gonçalves, a quem considero o melhor expoente da fé reformada no meio pentecostal. Ao descobrir isso, verão também que o calvinismo não é o tal “monstro” que alguns tentam criar em suas cabeças.
- A outra perspectiva é que se o intuito for cercear a liberdade cristã ou promover uma “caça às bruxas”, a reação já nasce com espírito carnal e de forma tardia, pois as Assembleias de Deus, atualmente, enfrentam sérios problemas institucionais, de gravíssima monta, diga-se de passagem, além de estarem extremamente fragmentadas, que lançar um debate com esse propósito acabará por dilacerar o pouco de unidade que resta. Goste-se ou não, o número de reformados, hoje, é muito grande no meio assembleiano. Isto sem qualquer proselitismo.
Extraído do link: http://teologiapentecostal.blogspot.com.br/2015/01/assembleiano-e-calvinista-convicto-uma.html