O CURRÍCULO NECESSÁRIO: Da Mistificação da Escola à Escola Necessária
Fala-se muito em “escola necessária”, “professor necessário”, “currículo necessário”,
“avaliação necessária”, entre outros. Mas o que significa o termo “necessário” aplicado à escola, ao currículo e ao professor?
No contexto filosófico, especificamente em Kant, o necessário é distinto daquilo que é contingente. O contingente é a) mutável, b) volúvel, c) multiforme, d) indeterminado, e) incidental; enquanto o necessário é: a) aquilo cuja não-existência não é possível; b) o ser ou a coisa cuja existência é essencial; c) o ser ou a coisa cuja essência é existir; d) o ser ou a coisa cuja existência e a essência são idênticas.
Na Teologia, o conceito de necessário aplicado a Deus designa: a) um Ser cuja não-existência não é possível; b) um Ser cuja existência é essencial; c) um Ser cuja essência é existir; d) um Ser cuja essência e existência são idênticas.
Apresentamos abaixo alguns exemplos de como o currículo das primeiras séries do Ensino Fundamental são adaptados e organizados por algumas instituições no ensino de Estudos Sociais:
1. Preparação das crianças para os anos posteriores da sua escolaridade.Exemplos: Trabalhos voltados para o desenvolvimento motor e de hábitos e atitudes; (2) Aquisição de procedimentos para copiar, repetir e colorir produções prévias.
2. Valorização das atividades com ênfase nas festas do calendário nacional: Dia do Soldado, do índio, das Mães, etc.Exemplo: Os alunos colorem desenhos mimeografados pelos professores: coelhinhos, soldados, etc.
3. Atividades voltadas para o desenvolvimento da noção de tempo e espaço.
Exemplo: Práticas e conteúdos desvinculados de suas relações com o cotidiano, os costumes, História e com o conhecimento geográfico construído na relação entre os homens e a natureza.
4. Propostas que partem da idéia de que falar da diversidade cultural, social, geográfica e histórica significa ir além da capacidade de compreensão das crianças.
Exemplo: São negadas informações valiosas para que os alunos reflitam sobre as paisagens, modos distintos de ser, viver e trabalhar dos povos, histórias de outros tempos que fazem parte de seu cotidiano.
5. Propostas que se limitam à transmissão de certas noções relacionadas aos seres vivos e ao corpo humano.
Exemplo: Valorizam a utilização de terminologia técnica, classificando animais e plantas segundo as categorias da Zoologia e da Biologia, o que pode constituir uma formalização de conteúdos não significativos para as crianças: “são mamíferos”, “são anfíbios”.
6. Práticas voltadas para uma formação moralizante, como no caso do esforço a certas atitudes relacionadas à saúde e à higiene.
Exemplo: Predominância de valores, estereótipos e conceitos de certo/errado; feio/bonito/ limpo/sujo/ mau/bom.
7. Práticas que realizam experiências pontuais de observação de pequenos animais ou plantas, cujos passos já estão previamente estabelecidos, sendo conduzidos pelo professor.Exemplo: (1) Ênfase apenas sobre as características imediatamente perceptíveis. (2) Os problemas investigados não ficam explícitos para os alunos e suas idéias sobre os resultados do experimento, bem como suas explicações para os fenômenos não valorizados.
Todavia, para que o currículo seja necessário é imprescindível que ele possibilite ao aluno contato com diferentes elementos, fenômenos e acontecimentos do mundo; que os alunos sejam instigados por questões significativas para observá-los e explicá-los, a fim de que tenham acesso a modos variados de compreender o mundo e a sociedade em que vivem.