A Bíblia é a Palavra De Deus
Tirar os valores bíblicos da Palavra de Deus é serrar os galhos sobres os quais estávamos assentados, mas o fim disso tudo seria dramático e extremamente destrutivo.
O intelectual e escritor indiano Vishal Mangalwadi que escreveu a obra “O livro que fez o seu mundo”, diz que há um fator que é muito comum nesta geração, a saber o “esnobismo cronológico”, que nada mais é do que a crença de que nos dias atuais o conhecimento e o entendimento é superior ao que foi alcançado por outras gerações.
Para J. Stanley Mattson, doutor em História Intelectual Americana, “a Bíblia e sua cosmovisão contribuíram como a força mais poderosa no surgimento da civilização ocidental”.
Em outras palavras, os princípios bíblicos contidos nas Escrituras Sagradas foram responsáveis pela consolidação da sociedade ocidental moderna na concepção de seus valores, justiça, ética, ciência, economia, história, dentre outras áreas afetadas pelo cristianismo.
Entretanto, parte da geração pós-moderna procura caminhar pela negação e rejeição dos valores apontados pela geração ascendente.
Segundo Vishal, “o sol não precisa se pôr sobre o Ocidente”. Os valores cristãos não apenas constroem sociedades, como modificam, restauram e ressuscitam a esperança de um novo amanhecer. Faço mais uma citação aqui, agora de George Orwell, em “Notes on the way” (1940), que disse “Durante duzentos anos, serramos o galho no qual estávamos assentados. Por fim, muito mais subitamente que qualquer um havia previsto, nossos esforços foram recompensados, e caímos. Mas, infelizmente havia um pequeno equívoco: no chão não havia um colchão de pétalas de rosas; o que havia era uma fossa cheia de arame farpado”.
Nos últimos dias, temos enfrentado ataques rotineiros e constantes aos valores da Palavra de Deus. Como se isso fosse algo novo. Satanás apresentou uma teologia nova para Adão e Eva no Jardim do Éden.
Uma falsa compreensão sobre o que Deus havia falado a eles, mas no final era apenas morte. Sabemos que a base do cristianismo está na Bíblia, por isso a desconstrução desses valores, estratégia do inimigo desde da primeira tentação, compreende retirar toda a mensagem de Deus revelada ao homem, afastando-o completamente do seu propósito. Para responder a esses ataques, reforço uma teologia imprescindível para compreender a forma como Deus decidiu ser revelar aos homens: a inspiração.
A Bíblia é inspirada por Deus (inspirar, do grego θεόπνευστος que significa “soprado por Deus”). Veja o que o apóstolo Paulo disse em 2 Timóteo 3.16:
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, (2 Timóteo 3.16 NVI)
Esse texto de Paulo revela que não há parte alguma das Escrituras que não seja concedida pelo “sopro de Deus”, o que a torna completamente útil para revelar os Seus propósitos soberanos. Então, não há nenhuma parte nos textos sagrados em que não haja a influência inspiradora do Espírito Santo. A fonte da autoridade das Escrituras está na inspiração, por isso a própria Palavra declara assertivamente a respeito disso.
A doutrina da inspiração fundamenta a fé da Igreja de Cristo; a certeza, a esperança e a segurança dos decretos divinos; e, de que mesmo sendo escrita dentro de um contexto histórico, as suas verdades são atemporais e devem ser aplicadas em todo tempo e em qualquer situação.
A inspiração não aconteceu de maneira mecânica, como se o Espírito tivesse ditado para os autores como eles deveriam escrever. Durante todo processo em que Deus se relacionou com o homem, Ele não anulava as suas vontades, mas as usava para que elas contribuíssem para o Seu propósito soberano.
A influência do Espírito Santo sobre os homens que foram inspirados, concedeu aos escritos sagrados o caráter de inerrância e completude, pois não estavam sujeitos às falhas humanas. Ainda, não existem partes da Bíblia que tenham maior teor de inspiração do que outras, sendo toda ela inspirada pelo Espírito e de igual importância.
Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são espirituais. (1 Coríntios 2.13 NVI)
O apóstolo Paulo deixa claro que as palavras (do grego λόγος, que significa palavra proferida a viva voz, que expressa uma concepção ou ideia) proferidas vieram do Espírito e não da sabedoria do homem, o que confirma a importância de estudar os termos bíblicos e aprofundar suas verdades e significados.
A inspiração não aconteceu por meio de talentos naturais, onde pessoas extraordinárias compuseram uma obra-prima tampouco através de homens piedosos que tiveram uma experiência mística e por meio dos dons que o Espírito confiou a cada cristão, escreveram os textos sagrados.
Existem dois critérios bíblicos, assegurados pelos ensinamentos de Cristo, os apóstolos e igreja, que devem ser observados para a melhor compreensão da doutrina da inspiração, a saber: a inspiração foi verbal (sobre o conteúdo) e plenária (sobre a extensão).
A inspiração foi verbal, porque o Espírito Santo direcionou os autores bíblicos a redigirem cada palavra que deveria ser colocada nas Escrituras Sagradas, sem retirar deles as qualidades inerentes às suas personalidades. Portanto, cada livro bíblico respeita o estilo literário do autor e as suas características pessoais, sem que o conteúdo da revelação seja afetado pela falibilidade humana ou que ele estivesse sujeito à meras opiniões e conselhos de homens.
A partir desses princípios que regem a doutrina da inspiração é importante aprofundar sobre como aconteceu a autoria das obras sagradas, a interação entre Deus e os autores humanos na composição da revelação especial, ao qual é denominada de autoria dual.
A forma como Deus decidiu se revelar, por meios dos textos sagrados, envolveu mais de quarenta homens, com realidades, vidas, contextos e histórias completamente diferentes, sendo algumas dessas obras de autoria desconhecida e outras de mais de uma autoria. Não havia entre esses autores quaisquer similaridades a fim de propor um argumento para a escolha divina, a não ser a soberania de Deus. Mesmo diante de uma realidade de múltiplas personalidades, contextos e autores, o Espírito Santo conduziu tais homens para produzir textos que estivessem em harmonia e unidade, a fim de que as Escrituras Sagradas revelassem o caráter e os propósitos de Deus.
A Bíblia é verdadeiramente a Palavra de Deus, tendo a verdade infalível como a autoridade divina em tudo o que ela afirma ou ordena (…) A Bíblia é verdadeiramente a produção de homens. Ela é marcada por todas as evidências da autoria humana tão clara e certamente como qualquer outro livro que já foi escrito por homens (…) Essa autoria dupla estende-se a cada parte da Escritura, e à linguagem assim como às ideias gerais expressas (…) A totalidade da Bíblia é verdadeiramente a palavra escrita por homens, mas que é de Deus.[1]
As palavras de Manly, pastor batista que viveu entre 1742 e 1824, em sua obra “A Doutrina Bíblica da Inspiração”, resume como deve ser compreendia a autoria dual da Bíblia: assinada por Deus e por homens inspirados por Ele.
Portanto, a Bíblia é inteiramente a Palavra de Deus. Em cada página e em cada palavra repousa o poder das palavras liberadas por Deus ao homem. Se Jesus Cristo é o logos, nós diminuímos a revelação de quem Ele é desconsiderando o poder das profecias que anunciaram a Sua vinda. O diminutivo de Jesus Cristo estaria em diminuir qualquer palavra das Escrituras. Portanto, fecho esse artigo com o texto de João:
Se alguém tirar alguma palavra deste livro de profecia, Deus tirará dele a sua parte na árvore da vida e na cidade santa, que são descritas neste livro. (Apocalipse 22.19 NVI)
[1] MANLY, Basil. Bible Doctrine of Inspiration, p.87