A igreja precisa de uma missão?
Josué Campanhã
Bill Hybells, pastor em Chicago, conta que certa vez foi participar de uma corrida de barcos. Ele era o dono do barco e tinha uma equipe de amadores que o ajudava. O regulamento permitia que um corredor profissional estivesse presente em cada barco para ajudar a equipe.
Ele convidou um dos veteranos corredores americanos. No dia da corrida, toda a equipe estava pronta e aquele corredor chegou. Depois de apresentar a equipe, Bill entregou o comando a ele. Aquele corredor disse que não poderiam sair dali sem antes definir algumas coisas. Em primeiro lugar ele perguntou:
– Qual é a nossa missão?
Todos ficaram se olhando e então alguém respondeu:
– Pretendemos ganhar a corrida.
Então ele disse:
– Ótimo, temos um bom ponto de partida, sabemos onde queremos chegar.
Depois disto ele ainda fez uma porção de perguntas, mas o objetivo inicial já tinha sido definido. A base de um planejamento também é esta. Se não houver a definição da missão da igreja, outras definições que venham a ser tomadas estarão soltas no ar, como pedras de meteorito no espaço. Estas pedras podem se colidir e provocar grandes estragos.
Muitas colisões que existem na igreja ocorrem porque os ministérios estão soltos. Talvez alguns deles até tenham uma direção, mas não estão olhando para o mesmo foco, e não tem uma visão geral.
A elaboração de uma declaração de missão
Muitos líderes argumentam que a igreja não precisa definir uma missão, pois ela já foi definida por Jesus. Isto é correto. Não dá para inventar uma nova missão para a igreja, diferente da que Jesus deixou.
No entanto, uma comparação simples torna possível entender uma coisa. Quando se pergunta qual é a missão de uma empresa de informática, a resposta é: fornecer tecnologia. Esta era a resposta que a IBM tinha anos atrás, antes que Bill Gates fundasse a Microsoft. Todas as empresas de informática eram iguais e pareciam ter a mesma missão. Depois que a Microsoft foi fundada, ela definiu como missão “ter um computador em cada casa do mundo”. Só que ela nunca fabricou um computador. O objetivo era: onde existir um computador a Microsoft teria um software instalado. Isto fez com que uma empresa criada na garagem com alguns jovens malucos se tornasse a maior do mundo. E a IBM? Ela quase desapareceu, e teve que se reinvetar para sobreviver.
Quando dizemos que todas as igrejas tem a mesma missão, isto é fato. Entretanto, muitas igrejas estão preocupadas em manter aquilo que sempre fizeram. Elas não contextualizam e nem criam um jeito diferente de fazer aquilo para o qual existem.
Talvez a sua igreja sempre esteve preocupada em manter aquilo que sempre fez. No entanto, é preciso fazer melhor aquilo que já se faz. Peter Ducker diz que “os fatores essenciais ao sucesso de uma missão são: Faça melhor aquilo que você já faz bem, se essa for a coisa certa a ser feita; olhe para fora em busca de oportunidades e necessidades. Um novo padrão é estabelecido quando se faz bem uma coisa. Isto é compromisso com a missão.”
A missão de uma igreja caracteriza o âmago do ministério a ser desenvolvido. Para John Stott, muitos consideram iguais os termos missão e evangelização, missionários e evangelistas e missões e programas de evangelização. Isto seria limitar demais a missão da igreja.
Isto nos leva a pensar em algumas coisas que Jesus afirmou, e que se relacionam com a missão da igreja. Jesus veio para servir e enviou sua igreja para servir ao mundo:
“…tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”. Mateus 20.28
“Assim com tu me enviaste ao mundo, também eu vos envio ao mundo”. João 17.18
“Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”. João 13.15
Russell Shedd afirma que: “A vontade de Deus para Jesus Cristo é também a vontade de Deus para a igreja”. Considerar a missão da igreja apenas evangelizar é superficilizar sua missão. Uma missão superficial gera um ensino superficial e realimenta um ciclo vicioso.
Para refletir
Uma igreja precisa tomar aquilo que Jesus nos deixou como missão, pensar na profundidade e extensão disto e contextualizar isto para esta geração. A falta de reflexão na contextualização da missão leva à superficialidade. A superficialidade da missão leva à superficialidade dos planos.
Todos os hospitais tem a mesma missão, mas em alguns deles nós não queremos nem entrar. Todos os hotéis tem a mesma missão, mas em alguns deles nós não queremos passar nem na porta. Assim é também com a igreja. Todas elas tem a mesma missão, mas algumas decidiram refletir e contextualizar sua missão. Elas entenderam o que Jesus disse há dois mil anos, mas buscaram a ajuda do Espírito Santo para conseguir causar um impacto no século 21.
Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e o site www.institutojetro.com e comunicada sua utilização através do e-mail artigos@institutojetro.com.
Leia Também:
Missão integral na Igreja
Formar discípulos, nossa missão
Novos paradigmas para a Igreja