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Discipulado, Perspectivas e Dimensões

Esse entendimento de discipulado está fundamentado no chamamento para seguir Jesus (“segue-me”)

Introdução

Sem dúvida, o discipulado cristão é um tema atual. Como observa João Pedro Gonçalves Araújo, “as primeiras duas décadas do século vinte e um estão se mostrando férteis na ‘produção’ – tradução – de literatura acerca do discipulado”.3 Enquanto se multiplicam os livros no meio protestante, o discipulado ganha relevo também no contexto católico, especialmente a partir do Documento de Aparecida (2007), produto final da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, ocorrida na cidade paulista que lhe empresta o nome. Marcado pela reflexão sobre o “agir como discípulos missionários de Jesus Cristo”4 , tema central do evento, o Documento de Aparecida é apontado pelo atual secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Joel Amado Portela, como referência para o modo como o Papa Francisco compreende a ação evangelizadora.5 De fato, poucos anos mais tarde, Francisco – um dos redatores do documento e agora Papa – retoma a discussão e edita a exortação apostólica que daria o tom de seu pontificado, a Evangelii Gaudium (2013), na qual declara: “Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus; não digamos mais que somos “discípulos” e “missionários”, mas sempre que somos «discípulos missionários”.6 Desde então, cresce ainda mais o interesse pelo assunto no meio católico.

Não é o caso aqui de aprofundar como o discipulado tem recebido destaque na teologia católica. Essa breve pincelada visa a demonstrar apenas o quanto o tema tem repercutido no cristianismo deste tempo, e o quanto merece ser colocado sob as lentes acadêmicas da teologia. É o que este pesquisador tem se proposto a fazer, e este artigo é parte de suas conclusões até aqui. Uma primeira e necessária colocação, ainda à guisa de introdução, consiste na dificuldade de conceituar o discipulado. Uma das encruzilhadas com que o estudioso logo se depara é a quantidade de possíveis acepções da palavra. Algo nem sempre captado pelo leitor de língua portuguesa é que, para o mesmo termo no idioma, há um leque de possibilidades na língua original de certos autores, em particular o inglês: discipleship, discipling, making disciples e disciple-making; cada qual com um sentido, ora distinto, ora equivalente, dependendo de quem escreve e do contexto em que o faz. Por essa razão, este breve estudo exigiu, por vezes, lançar mão da terminologia tanto do original quanto da tradução de uma mesma obra, como se verá nas notas de rodapé e nas referências bibliográficas. Sem esgotar o tema, busca-se distinguir duas perspectivas iniciais para, em um segundo momento, analisar três possíveis versões de uma delas. Não se pretende, aqui, fazer uma pesquisa genealógica do discipulado, mas tão somente definir o fenômeno tal como existe. O recorte temporal e espacial será o que está em ação na contemporaneidade no meio protestante brasileiro. Espera-se, ao final, contribuir para um panorama o mais amplo possível do discipulado na igreja, o que se fará mediante o diálogo entre aquelas que se consideram ser as três principais versões de discipulado em operação hoje nas igrejas evangélicas do país.

1. Discipulado vertical

Parte dos autores que abordam o discipulado cristão o conceituam sob uma perspectiva vertical, ou seja, a partir da relação do discípulo com Cristo. Esse entendimento de discipulado está fundamentado no chamamento para seguir Jesus (“segue-me”7 ) e na obediência a seus mandamentos.8 Cuida-se do discipulado como sinônimo de seguimento.

  • Linhas gerais e autores

Em recente artigo, João Pedro Araújo intitula essa perspectiva de “discipulado puro ou metafísico”, o qual se caracteriza por uma relação verticalizada com Cristo, sem mediação humana9 – daí a inspiração para a expressão “discipulado vertical” ora proposta. Como exemplo desse entendimento, o autor cita Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), James Houston (1922-) e John Stott (1921-2011)10, cujos pensamentos resume no mencionado artigo, do qual recomenda-se a leitura, sendo desnecessário repeti-lo aqui. Apenas registre-se que o livro Discipulado (1937), de Bonhoeffer, reputado por Karl Barth o melhor escrito provavelmente já produzido sobre o tema11, ostenta como título original Nachfolge – literalmente, seguimento12.

Acrescentem-se outros dois autores que enxergam o discipulado sob a mesma perspectiva. O primeiro é o já referido Karl Barth (1886-1968), que, em sua obra Chamado ao discipulado, observa que o Novo Testamento nunca usa o substantivo “discipulado” (akalouthesis), mas somente o verbo “seguir” (akolouthein) ou “siga-me” (opiso mou erchesthai). Ou seja, para Barth, fosse o caso de escavar a palavra “discipulado” na Escritura, dever-se-ia encontrá-la na substantivação do “siga-me”. Discipulado, por conseguinte, seria o relacionamento estabelecido entre a pessoa específica, a quem foi dada a ordem de seguir, e aquele que chama13, o que equivale dizer, na prática, que “o comando para seguir Jesus é idêntico ao comando de crer nele”.14 Ser discípulo, nessa ótica, é o mesmo que ser cristão. Outro teólogo digno de nota, por também enxergar o discipulado sob o prisma do seguimento, é o alemão Jürgen Moltmann (1926-). Para o autor, o discipulado exercido por Jesus, porquanto dizia respeito à fé e implicava uma extraordinária reivindicação de poder, não envolvia de forma alguma um convite para que os discípulos, eles mesmos, se tornassem mestres15; era, portanto, irrepetível. Moltmann cataloga os paradigmas de discipulado até seus dias, a começar do paulino, seguido do discipulado dos mártires e da vida monástica16; e, por fim, sugere um conceito de discipulado qualificado pela “presentificação do Crucificado na comunhão viva com Cristo”, o que se daria ao se investigar e discernir o que passa da cruz no Calvário para a cruz dos discípulos e o que permanece exclusivamente nela.17 Apesar de criticar a “mística da introversão” do monasticismo e propor um discipulado que desague em uma teologia política, Moltmann, em cada um dos paradigmas que elenca – inclusive o próprio –, compreende o discipulado enquanto seguimento, isto é, um modo de vida implicado na relação discípulo-mestre desenvolvida entre o cristão e Jesus Cristo.

1.2. Discipulado vertical e missão

Seria injusto afirmar que os autores da perspectiva de discipulado vertical estejam alheios aos desdobramentos “para fora” do chamado para seguir a Cristo. Bonhoeffer dizia que, embora o discípulo seja chamado individualmente e tenha de ser discípulo sozinho18, a fuga para a invisibilidade é negação do chamado e a “Igreja de Jesus que queira passar despercebida não é Igreja no discipulado”.19 Karl Barth, a exemplo do que foi dito de Moltmann, também enxergava implicações públicas no seguimento de Jesus. Contrário a um discipulado que se configurasse como mera beatitude privada, Barth conclamou os que se reconhecem como cristãos a aceitarem a responsabilidade pública que assumiram ao se tornarem discípulos de Jesus, sob pena de serem completamente inúteis como testemunhas do reino de Deus.20 John Stott, por seu turno, enxerga nas palavras de Jesus em João 17.18 e 20.21 – “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” – uma instrução para que a missão dos discípulos se assemelhe à de Cristo, o que se dá quando eles, assim como seu Mestre entrou neste mundo, entram no mundo de outras pessoas.21 Na realidade, Stott produziu várias obras sobre a missão da igreja, entre elas as clássicas Our guilty silence: the church, the gospel and the world (1967)22 e Christian mission in the modern world (1975).23 Nessa última, comenta Mateus 28.19-20, Marcos 16.15, Lucas 24.47, João 20.21 e Atos 1.8, textos que considera os termos do que o Senhor Jesus comissionou o seu povo a fazer; e nota neles uma ênfase cumulativa colocada na pregação, no testemunho e no ato de fazer discípulos. 24 Perceba-se que Stott não correlaciona o “fazei discípulos” de Mateus 28.19 ao discipulado, imediatamente. Nas palavras do teólogo, a passagem trata de “making disciples”. Curioso que, na versão em língua portuguesa – A missão cristã no mundo moderno –, o tradutor optou por traduzir a expressão “making disciples” por “discipulado”, provavelmente desapercebido que a associação que, com frequência, faz-se em português de fazer discípulos com discipulado não costuma aparecer na pena de Stott.

Por sinal, o inglês teve a oportunidade de explicitar sua interpretação de Mateus 28.19 em mensagem proferida no Congresso Mundial de Evangelização em Berlim, em 1966, ocasião em que defendeu um fazer discípulos que se obtém mediante a pregação do Evangelho. Segundo Stott, ao se pregar o Evangelho, prega-se a Cristo, e então os homens se convertem e se tornam discípulos. E conclui: “jamais poderemos fugir desta verdade elementar, ou ir além dela: que evangelismo é pregar Jesus Cristo e fazer discípulos de Jesus Cristo”.25 Discipling – como escreve – seria o primeiro estágio da Grande Comissão, anterior ao batismo, quando os novos convertidos são alertados acerca das condições impostas pelo Mestre.26 Mais tarde, em seu último livro, O discípulo radical (2010), retoma o assunto para indicar oito características do discipulado cristão. Ali, enfim, Stott usa discipleship27; porém, desdobra o conceito para sua perspectiva missionária, atribuindo à morte – última dessas características – o caminho para a frutificação e a expansão do evangelho no mundo.28 Conclui-se que o discipulado, para Barth, Moltmann e Stott, assim como para Bonhoeffer, não se deduz primariamente da missão da igreja – embora essa missão esteja implicada nas consequências do discipulado –, mas, sim, do chamado individual para seguir a Jesus – e isso é o que caracteriza a perspectiva de discipulado vertical.

  • Decifrando a questão terminológica

Poder-se-ia argumentar que a dificuldade terminológica se restringe à língua portuguesa, dada a dificuldade de diferenciar Nachfolge [Bonhoeffer] ou discipleship [Stott, 2010], de discipling [Stott, 1966] e making disciples [Stott, 1975] em português, o que não acontece no inglês. De fato, todas essas palavras, aparentemente bem delimitadas no idioma original, têm sido traduzidas por “discipulado”. No entanto, em 1981 Billy Hanks Jr. e William A. Shell já compilavam textos de Robert Coleman, LeRoy Eims, Dawson Trotman, entre outros, para editar o livro Discipleship: the best writings from the most experienced disciple makers, em cujo prefácio anotam:

Depois de séculos de relativo silêncio a respeito do importante assunto do discipulado [discipleship], experimentamos hoje a publicação em âmbito mundial de novos textos e materiais dedicados à causa da multiplicação de evangelismo e formação de discípulos [apprenticeship]. Está claro que muitos homens e mulheres piedosos têm contribuído para o despertamento desse interesse na comissão de fazer discípulos [disciple making].29

Observe-se como usam os três termos de forma correlata, sendo que o título eleito para o livro foi Discipleship. De certo, a tendência de utilizar a palavra para descrever a missão de fazer discípulos já havia sido captada por Jesse C. Fletcher, quando reportou que, nos anos recentes a 1980, discipleship se transformara em quase uma senha de acesso nos círculos cristãos, porém não sem certa confusão conceitual. E retrata dois tipos de discipulado: aquele que se referia ao relacionamento básico que um crente tem com seu Senhor – isto é, discipulado vertical – e aquele que significava o esforço de um crente para discipular outra pessoa em nome de Jesus Cristo30 – discipulado horizontal, abordado adiante. Portanto, até mesmo no inglês verifica-se mais do que uma questão terminológica: o que há é uma real bifurcação de sentido a partir de qual texto bíblico se deveria extrair o discipulado: se do chamado para seguir a Cristo (ser discípulo) ou da Grande Comissão (fazer discípulos). Por conseguinte, não se pode dizer que se tratem, propriamente, de correntes teológicas antagônicas sobre o discipulado, mas de percepções que se diferem pelo ângulo com que enxergam uma mesma categoria, eis por que dizer que são, apenas, perspectivas diferentes. Examine- -se, agora, o discipulado horizontal.

3. Discipulado horizontal (ou discipulado missionário

O discipulado horizontal (ou missionário) refere-se à perspectiva de discipulado à luz de Mateus 28.19: “fazei discípulos”. Indica o ato de fazer um discípulo, o que reporta à relação de horizontalidade vivida entre aquele que discipula e aquele que é discipulado.32 Essa perspectiva, todavia, não é uníssona. Se há, por um lado, consenso quanto à obrigatoriedade de fazer discípulos, por outro, os autores divergem quanto ao modo como essa ordem deva ser implementada na igreja local. Depara-se, pois, com uma segunda ramificação do conceito de discipulado: o discipulado na comunidade, o discipulado em pequenos grupos e o discipulado um a um. As três vertentes tentam definir de que forma se faz um discípulo, e podem ser particularizadas conforme a instância ou a pessoa que sugerem como responsável pela tarefa. Basicamente, podem ser categorizadas a partir da pergunta: quem, de fato, discipula? Apresentam-se as três vertentes, segundo articuladas por selecionados autores, sem ordem de importância.

  • Discipulado na comunidade

A primeira vertente de discipulado horizontal será chamada de discipulado na comunidade por entender, em resumo, que quem discipula é a igreja local. Seu proponente mais expressivo é, provavelmente, o pastor batista norte-americano Mark Dever (1960-), conhecido no Brasil por sua série 9 Marcas: construindo igrejas saudáveis, veiculada no Brasil pelas editoras Vida Nova e Fiel. Para Dever, “as igrejas cumprem a Grande Comissão, e discipular é o trabalho delas”33; e mais: “a Bíblia ensina que a igreja local é o ambiente natural para o discipulado. Na verdade, ela ensina que a própria igreja local é a discipuladora fundamental dos cristãos”.34 O autor parte da premissa de que “crescer na vida cristã não é um assunto individual; pelo contrário, é um assunto que diz respeito a toda a igreja”.35 E, então, apresenta os meios pelos quais a igreja discipula: os encontros semanais e estruturas de prestação de contas, os presbíteros (pastores) e os membros. Considerem-se cada um desses meios, rapidamente. Para Dever, a obra do discipulado começa simplesmente pelo ato de reunir-se.36 E defende: “A assembleia reunida detém autoridade de confirmar ou não quem pertence ao corpo de Cristo, isto é: quem é discípulo. E, ao agir assim, estabelece o contexto da prestação de contas para o discipulado”.37 Daí identificar uma estreita relação entre discipulado e membresia de igreja. Somente um entendimento bíblico da membresia, porquanto delimite o círculo daqueles que se sujeitam à disciplina eclesiástica, seria capaz de gerar uma estrutura propícia ao discipulado.38 Isso incluiria as duas ordenanças: “Por meio da administração do batismo e da ceia do Senhor pela igreja, reconhecemos uns aos outros como crentes. E isso proporciona uma prestação de contas espiritual benéfica aos relacionamentos de discipulado”.

A igreja também discipularia por meio de seus pastores, pessoas dotadas para o propósito de pregar todo o conselho de Deus.40 O discipulado do novo cristão implicaria “assentar-se sob o ministério da pregação da Palavra, ser batizado, participar da Ceia do Senhor, orar, estudar a Bíblia, arrepender-se e crer”.41 No mesmo sentido: “Se tivermos de crescer como cristãos, tanto individual como corporativamente, temos de nos assentar sob o ministério da Palavra”.42 É por meio do ministério de ensino da igreja e dos presbíteros que os cristãos aprendem a obedecer a tudo o que Jesus ordenou.43 Nota-se, assim, em Dever um forte apelo à pregação expositiva como elemento central do culto e instância primordial do discipulado comunitário. Mas, promover o discipulado, ou o crescimento cristão, não seria de responsabilidade exclusiva do pastor. Segundo Dever, o Novo Testamento mostra, com clareza, que seguir a Jesus envolve cuidado e interesse mútuos44. Em suas palavras, “os membros da igreja devem ensinar uns aos outros. Isso faz parte daquilo que nos une como corpo de Cristo”.45 Por conseguinte, a igreja deveria desenvolver o que denomina uma “cultura de discipulado”, caracterizada pelo interesse dos membros da igreja pelo estado espiritual uns dos outros.46 E explica:

Quando nos tornamos membro de uma igreja, estamos dando as mãos uns aos outros para conhecermos e sermos conhecidos uns pelos outros. Concordamos em ajudar e encorajar uns aos outros, quando necessitamos ser lembrados da obra de Deus em nossas vidas ou quando precisamos ser exortados a respeito das grandes discrepâncias entre o nosso falar e o nosso viver.

Mark Dever tem oferecido grande contribuição ao fomentar a dimensão comunitária do discipulado. Mas há mais duas vertentes que importam ser estudadas; a próxima, o discipulado em pequenos grupos.

  • Discipulado em pequenos grupos

Pesquisador e escritor sobre igreja em células em todo o mundo, inclusive duas recentes em português: Discipulado relacional: como Deus usa a comunidade para modelar seguidores de Jesus (2014) e Fazer discípulos na Igreja do século 21: como a igreja baseada em células/pequenos grupos faz seguidores de Jesus (2017), Joel Comiskey (1956-) foi pinçado como o representante do discipulado em pequenos grupos. Demais autores proeminentes são Ralph Neighbour (1929-), Juan Carlos Ortiz (1934-) e Dave Earley (1959-).

Segundo Comiskey, disciplinas espirituais pessoais e relacionamentos de discipulado são boas iniciativas; porém, parece não ser isso o que Jesus tinha em mente quando proferiu a ordem de fazer discípulos.48 Crítico do discipulado um a um, cuja existência atribui ao individualismo da cultura moderna ocidental, Comiskey sustenta que Jesus modelou aquele que deveria ser o discipulado ideal: o que acontece mediante os relacionamentos em um pequeno grupo de discípulos.

Para o autor, embora a relação dos discípulos com Deus fosse  intencionada  pelo  Mestre,  essa  relação  precisaria  ser forjada  em  uma “atmosfera  de  comunidade”  onde  pudessem aprender a amar uns aos outros, conforme o novo mandamento outorgado em João 13.34,35.49 Com razão, Jesus teria chamado seus discípulos para conviverem com ele por três anos, a fim de acompanhá-lo enquanto vivia, andava e comia com eles. “Ele ensinou-lhes através de parábolas e lições que tinham a vida real como objeto – não primariamente num ambiente de grupo grande”50, argumenta.

O mesmo princípio também se observaria na Igreja Primitiva: “Eles aplicavam os ensinos dos apóstolos de casa em casa e no templo. Eles se reuniam publicamente durante o maior tempo possível, mas quando a perseguição impedia as reuniões públicas, eles ainda continuavam a se reunir de casa em casa (Atos 2.42-46)”.51 Comiskey  relembra  que,  de  igual  modo,  as  igrejas destinatárias das epístolas paulinas desenvolviam-se principalmente no ambiente doméstico, pequeno o suficiente para viabilizar a prática dos mandamentos “uns aos outros”.52 Com isso em mente, enumera vinte e quatro desses mandamentos e os comenta, um por um, demonstrando de que forma deveriam ser desenvolvidos no contexto de um pequeno grupo.53 Os grupos menores seriam, portanto, a melhor maneira de praticar esses mandamentos ainda hoje”.54 Comiskey questiona a falta desse tipo de discipulado na literatura cristã da atualidade:

O que me impressiona é a falta de material sobre discipulado em um grupo. Livros sobre discipulado não fazem a conexão entre a maneira como Jesus e a igreja primitiva faziam discípulos e como nós deveríamos discipular hoje. A maioria dos escritores não explica o contexto de grupo do discipulado do Novo Testamento e faz com que a variedade de discipulado individual pareça ser a maneira bíblica de fazer discípulos. Ignorar isso e saltar para as devocionais pessoais ou o discipulado um a um é fazer uma transição abrupta dos tempos bíblicos para a cultura ocidental.55

E arremata: “está claro nas Escrituras que Jesus quer que façamos parte de um grupo e que esse é o veículo para o nosso crescimento e desenvolvimento como seus discípulos”.56 Ao afirmar categoricamente: “esse é o veículo”, Comiskey apresenta-se como defensor entusiasta do discipulado em pequenos grupos. Porém, há, ainda, outra vertente: o discipulado um a um.

  • Discipulado um a um

Em  poucas  palavras,  o  discipulado  um  a  sustenta  que quem faz um discípulo é outro discípulo. Esse pensamento remonta à visão de discipulado desenvolvida por Dawson Trotman (1906-1956), fundador e líder dos Navegadores (The Navigators), a quem credita-se o nascedouro do que hoje se conhece como o movimento de discipulado um a um57. Entre os líderes e autores por ele influenciados, contam-se Billy Graham (1918-2018), Bill Bright (1921-2003), Leroy Eims (1925-2004) e Waylon Moore (1927-).58 Outros escritores que merecem destaque são Robert Coleman (1928-), autor do clássico Plano Mestre de Evangelismo(1963), e Keith Phillips (1946-), de A formação do discípulo (The making of a disciple, 1981).

Gerada  da  constatação  de  que  nem  sempre  as  pessoas que respondiam aos apelos evangelísticos permaneciam na fé e estavam crescendo como cristãos, essa vertente de discipulado conseguiu distinguir o ato de fazer um convertido do processo de fazer um discípulo.59 O discipulado, então, seria justamente o fator de transição entre um e outro; e, por isso, equivaleria, na prática, ao acompanhamento pessoal daquele que se conver-te.60 Logo, o objetivo do discipulado seria tornar um convertido, considerado um “bebê espiritual”, em um discípulo maduro e frutífero capaz de reproduzir-se. Como observa Waylon Moore, “os ‘esquentadores de banco’ são muitos; os trabalhadores são poucos. Os trabalhadores são produto de discipulado feito na igreja e orientado pelo Espírito”.61

Mas esse discipulado não seria feito por algo, mas por al-guém.62 Na verdade, o discipulado demanda que a igreja desenvolva um programa de treinamento por meio do qual todas as pessoas que se convertem passem a contar com um amigo cristão como referência, e cujos passos possam seguir até o ponto de replicarem o processo com outros. Para Coleman, a única maneira de oferecer esse treinamento aos novos crentes – por assim dizer, de promover o discipulado – seria “dando-lhes um líder a quem possam seguir”63; ou seja, um discípulo discipulado outro.

Escolher um autor para representar essa vertente é uma decisão difícil. Destaca-se Waylon Moore devido ao mérito de resgatar os princípios de Trotman, nascidos e desenvolvidos em uma entidade paraeclesiástica, e adaptá-los para a funcionalidade da igreja local; e também devido aos dois livros traduzidos para a língua portuguesa: Integração segundo o Novo Testamento: como conservar, desenvolver e multiplicar os convertidos (1963, EUA;1976, Brasil) e Multiplicando discípulos: o método neotestamentário para o crescimento da igreja (1981, EUA; 1983, Brasil).64

Assim como Coleman, Moore ensina que cada cristão precisa fazer parte de um programa constante de preparação para fazer discípulos. Segundo o autor, o plano de Deus sempre foi que sua obra seja executada por todos os crentes e não somente pelos pastores, razão pela qual estes precisam superar a divisão entre leigos e clero e desenvolver a liderança leiga da igreja.65 Em uma de suas mais célebres frases, declara: “Quando a igreja exala discípulos, inala convertidos”.66 Para ele, o grande recurso para a evangelização mundial é o crente individualmente falando.67

Moore assinala que a Grande Comissão não se cumpre por meio de tornar o novo crente assíduo aos cultos ou atividades da igreja, ou, ainda, aluno da Escola Bíblica Dominical: “tudo isso é importante, sem dúvida, mas não vai ao encontro das mais profundas necessidades do recém-convertido nem está dentro dos moldes escriturísticos do verdadeiro «fazei discípulos».68 O modo bíblico de fazer um discípulo seria fornecer-lhe um treinamento individual por parte de um discípulo mais maduro, a fim de que se tornasse capaz de multiplicar-se.69

Moore recorda que Jesus teve um estratégico ministério privado, concentrado em indivíduos, a fim de que multiplicassem a mensagem de sua vida, morte e ressurreição por todas as nações. Se a igreja de nossos dias quiser copiar o ministério de Jesus, teria de equipar e treinar os convertidos para que alcancem outros por meio da reprodução espiritual. Dessa forma, quem faria discípulos seriam os próprios discípulos, já amadurecidos, ao multiplicarem-se na vida de outros.70 Portanto, nas palavras do autor, “fazer discípulos de todas as nações de torna–se tanto um resultado da evangelização quanto uma forma de realizar a evangelização do mundo”.71

3. Diálogo em busca da complementariedade entre as vertentes

A despeito de partirem de uma mesma expressão bíblica – “fazei discípulos” –, as três vertentes de discipulado horizontal propõem caminhos distintos para cumprir esse objetivo. Isso não significa necessariamente que uma ignore ou rechace a proposta de discipulado apresentada pelas demais. Mediante o exame minucioso do que cada vertente tem a dizer sobre as outras, começa-se a enxergar entre elas uma relação de complementariedade. Observe-se se não é assim.

  • Discipulado na comunidade, segundo as outras vertentes

Para  os  proponentes  de  discipulado  em  pequenos  grupos, o discipulado na igreja deve se operar além das celebrações públicas, mas nunca aquém. Invocando a expressão de Bill Backham que se tornou célebre entre os autores de igreja em células, Comiskey confirma que “uma igreja com duas asas [grandes celebrações e pequenos grupos] está melhor preparada para fazer discípulos que fazem discípulos do que uma igreja que enfatiza exclusivamente uma asa ou outra”.72

Comiskey reconhece, na Bíblia, uma conexão entre a célula e a reunião maior; e apresenta as vantagens desta última para o discipulado. Em primeiro lugar, o ensino aconteceria em um nível superior. Segundo ele, o discipulado na célula é prático, voltado à aplicação da Palavra de Deus na vida de cada crente; e, já na celebração comunitária, ocorreria o ensino mais aprofunda-do.73 Registre-se, aqui, a recente tese de mestrado assinada por Rafael Blume, líder da Rede Maranhense de Igreja em Células e professor de Pregação Expositiva – uma das ênfases de Mark Dever –, na qual conclui, com singular acuidade, que a combinação entre a pregação expositiva e a igreja em células não só é viável, como favorece a ambas.74

Outro benefício da reunião maior seria permitir o “celebrar juntos”, que teria a função de inspirar os membros enquanto fortalecidos pela presença de Deus na adoração. Afirma o autor:

A  célula  e  a  celebração  atuam  juntas  no  processo  de discipulado. O discipulado na célula é mais intensivo e prático. O discipulado da celebração ajuda os membros a verem o quadro maior, uma vez que todos adoram em um ambiente festivo. Ambos são essenciais no processo de se tornar mais parecido com Jesus.75

Os proveitos do discipulado na comunidade também incluiriam proporcionar o encontro da “família estendida” – tempo para que os irmãos revigorem uns aos outros e, com isso, tornem-se mais parecidos com Jesus76 –, fortalecer a visão e a unidade  da  igreja  e  viabilizar  eventos  de  colheita,  quando  se pode “lançar uma rede bem maior”.77

Para  os  proponentes  do  discipulado  um  a  um,  o  papel discipular da comunidade não é tão claro. Porém, investigando a fundo, percebe-se tratar mais de ênfase do que de princípio. Como visto, Waylon Moore questiona a capacidade das grandes reuniões de transformarem convertidos em discípulos; mas sua crítica não é contra a comunidade em si. Vale repetir, Moore refere-se à participação dos convertidos nos cultos e na Escola Bíblica Dominical como iniciativas importantes.78 Também Trotman valorizava a participação dos crentesna igreja local, e reconhecia a integração na membresia como fundamental no processo de acompanhamento pós-cruzadas evangelísticas.79Certa vez, disse: “Embora o estudo pessoal da Palavra de Deus seja primordial na vida do cristão vitorioso, não deveria de forma alguma ser considerado um substituto da comunhão regular com outros na Sua igreja”.80 Além disso, em sua ilustração com a mão, na qual os dedos representavam os cinco elementos essenciais do estudo e da compreensão da Bíblia, Trotman usou o primeiro dedo para o verbo “ouvir (Rm 10.17)”, recomendando ao discípulo escutar bons sermões.81

A questão é que, na leitura de Trotman, as igrejas estavam falhando em acompanhar os indivíduos e treiná-los no discipulado.82 Para Moore, havia ênfase exagerada das igrejas no número de batismos e nos eventos em contrapartida à negligência na ordem de Cristo de fazer discípulos.83 Ora, é natural que destacassem aquilo de que mais sentiam falta nas igrejas – o discipulado personalizado –, o que não significa, de forma alguma, que tenham discordado ou desvalorizado as reuniões comunitárias.

Tanto Trotman quanto Moore, à semelhança de Comiskey, desejavam realçar um aspecto do fazer discípulos que, a seu ver, escaparia da percepção da maioria das igrejas de seu tempo e cultura. Portanto, ao comentarem o que ora se identifica como o discipulado comunitário, esses autores advogavam que, apesar da importância da modalidade coletiva, dever-se-iam incorporar à igreja os pequenos grupos e o acompanhamento um a um com vista a um discipulado ainda mais efetivo.

  • Discipulado em pequenos grupos, segundo as outras vertentes

Conquanto  não  se  possa  dizer  que  Mark  Dever  endosse a igreja em células como modelo eclesiástico, fato é que ele tem incentivado os membros à vivência de relacionamentos de discipulado  na  informalidade  dos  pequenos  grupos.  Para  ele, o resultado de qualquer atividade da igreja só será duradouro se baseado em relacionamentos.84 Em seu livro A  Comunidade  Cativante:  onde  o  poder  de  Deus  torna  uma  igreja  atraente, Dever narra a experiência vivida em sua igreja, quando, decidido a cultivar a “cultura de discipulado”, passou a incluir frequentes aplicações acerca do ato de discipular em seus sermões. “Pouco a pouco”, relata, “a Palavra de Deus começou a trabalhar”. Como consequência, as pessoas passaram a ver como os mandamentos2019bíblicos – os mesmos que Joel Comiskey exalta para a vida em células – referentes a ‘uns aos outros’ podiam ser vivenciados em meio aos relacionamentos. Tal iniciativa fez com que os pequenos grupos se tornassem, naturalmente, “centros de atividade discipuladora”.85

De volta a Waylon Moore, bom que se frise que a modalidade de pequeno grupo com que lidava em seus dias consistia no ensino formal em classes dominicais que, em sua opinião, estava longe de promover um verdadeiro discipulado. Com pesar, expõe: “Ouvi, recentemente, um pastor lamentar o fato de que entre os milhares que pertenciam à Escola Bíblica Dominical de sua igreja, ele só conhecia dois leigos que eram ganhadores de almas”.86 Entretanto, para verificar o que o discipulado um a um teria a dizer sobre pequenos grupos, necessário regressar mais uma vez a Dawson Trotman.

Por  volta  de  1945,  quando  irrompeu  a  Segunda Guerra Mundial,  muito  antes  de  qualquer  noção  de  células,  Dawson Trotman começou a treinar homens para ministrar classes de estudo bíblico nos navios de guerra americanos. Seu plano con-sistia em equipá-los por meio de encontros em grupo e um a um.87 A estratégia para início dos pequenos grupos era: “Apenas se reúnam em dois ou três no navio para orar, e esperem no Senhor antes de começarem uma classe de estudos bíblicos”.88 O líder deveria testemunhar e acompanhar os convertidos, um a um, levando-os a estudar e memorizar as Escrituras, evangelizar, orar e aplicar a Palavra; tudo isso visando a cumprir o padrão de 2Timóteo 2.2: ensinar homens fiéis capazes de ensinar outros.89À medida que os grupos de estudo bíblico começaram a gerarnovos grupos, Trotman teve de reiterar a visão de reproduzir reprodutores, que caracterizou sua peculiar abordagem de formação de discípulos via relacionamento individual. “Grupos geram grupos; homens fiéis geram homens fiéis”, dizia.90 Somente o treinamento homem a homem seria capaz de garantir a multiplicação de líderes, à medida que mais grupos de estudo bíblico fossem necessários.

Mesmo  convencido  da  necessidade  de  enfocar  o  indivíduo – “Escolha um homem que esteja realmente interessado e concentre-se nele”, era seu conselho aos líderes91 –, Trotman não abandonou a ideia do pequeno grupo, o que enxergava como relevante instância da vida cristã: “Ainda que sua maior tarefa seja homem a homem, o trabalho em grupo é tremendamente importante. Você pode ter uma comunhão preciosa em um grupo que não poderá ter apenas entre um e outro”.92 Também encontrava o seguinte benefício nas reuniões em grupo:

Uma coisa importante acerca do ministério em grupos é que ele ajuda a remir o tempo. Se eu puder ensinar algo a vinte de você de uma só vez, é uma estratégia que poupa tempo, não é? Agora mesmo neste grupo eu tenho a atenção de vocês. (…) Mais tarde, quando eu estiver com cada um, poderei começar deste ponto e construir algo em cima do que vocês já sabem. Portanto, a reunião ajuda a remir o tempo.93

Portanto, embora não se possa dizer que nem Mark Dever nem Dawson Trotman tenham respaldado a igreja em células, conforme promovida hoje por Joel Comiskey, ambos reconhecem o proveito dos pequenos grupos como iniciativa complementar ao discipulado.

  • Discipulado um a um, segundo as outras vertentes

Como  já  mencionado,  Mark  Dever  distingue discipulado (discipleship) de discipular (discipling), este último algo bem próximo do discipulado um a um. Pela sua definição, discipling equivaleria a iniciar um “relacionamento no qual o discipulador ensina, corrige, serve de modelo e ama”.94 Ao extrair da Grande Comissão uma obrigação de discipular as pessoas de maneira coletiva e individual95, e mesmo entendendo que a igreja é a discipuladora por excelência, o autor não ignora – pelo contrário, estimula – a influência pessoal dos cristãos na vida de outras pessoas por meio de relacionamentos intencionais. Em suas palavras, “discipular é exercer uma boa influência espiritual sobre alguém, de modo deliberado, de forma que essa pessoa se torne mais parecida com Cristo”.96 E isso significa que o cristão deve convidar pessoas a imitá-lo ao tornar sua confiança em Cristo um exemplo a ser seguido, o que acontece à medida que as envolve em sua vida.97 Nesse trecho, poderia facilmente ser confundido como um proponente do discipulado um a um.

Por fim, examine-se o que Joel Comiskey afirma sobre essa vertente discipular. À primeira vista, o autor se mostra categórico em denunciá-lo como produto da cultura de individualismo do mundo ocidental moderno. Segundo ele, “a Bíblia nunca fala desta forma individualista de discipulado”.98 No entanto, trata–se, em grande porção, de uma tensão meramente terminológica. Este pesquisador já teve a oportunidade de conversar com Comiskey, quando lhe indagou se o relacionamento entre um líder de célula e seu aprendiz  não  poderia  ser  considerado  um  discipulado um a um, uma vez se cuidar de uma relação individualizada que ultrapassa a reunião do grupo. Eis a resposta:

Ótima pergunta! Eu acredito que o um a um tenha um lugar no ministério. Mas acho que as passagens bíblicas sobre um a um se encaixem melhor no conceito de coaching (alguns podem chamar  isso  de  mentoria  ou  supervisão).  Em outras palavras, líderes treinando (coaching) outros líderes: Jetro/Moisés, Elias/Eliseu, Barnabé/Paulo, e assim por diante. MAS, quando Jesus usa o discipulado, é em um contexto de grupo. Mateus 28.18-20 foi dirigido ao grupo (por exemplo, faça discípulos como eu fiz com vocês). Mas, em um sentido mais amplo, fazer discípulos é o objetivo da igreja em células: da célula em si e do sistema celular. E eu acredito que há um lugar dentro da célula para os membros cuidarem uns dos outros. Mas eu evito a expressão “discipulado um-contra-um” porque eu acho que é muito limitante e não encontrada no texto bíblico.99

Ao que se nota, a resistência de Comiskey ao discipulado um a um não o impede de enxergar os benefícios dos relacionamentos individualizados que promovam o amadurecimento dos discípulos e a sua transformação em líderes de pequenos grupos.

Considerações Finais

Discipulado é um termo de difícil definição. Dependendo da abordagem bíblica inicial, o discipulado pode significar o seguimento de Cristo (discipulado  vertical) ou a ação de fazer um discípulo (discipulado horizontal ou missionário). Mesmo aqueles que concebem o discipulado a partir da relação entre o discípulo e o Mestre costumam mencionar as implicações desse seguimento para a missão cristã. De modo semelhante, os que propõem um discipulado à luz da Grande Comissão também sepreocupam em deixar claro o preço de seguir a Cristo.

Por conseguinte, a classificação ora formulada, inobstante seu auxílio didático, não dá conta de caracterizar as duas perspectivas  como  correntes  teológicas  antagônicas.  A  contribuição dessa classificação reside na separação, para efeito de um estudo comparativo dos métodos de discipulado atuais, de um viés de discipulado que, embora não alheio à ideia de seguimento pessoal, concentra-se em sua perspectiva missionária (fazer discípulos).

Quando  se  discute  sobre  métodos  de  discipulado,  vital delimitar que se está diante da categoria sob o seu sentido horizontal, o que evita perda de foco ao se compararem objetos diferentes pensando cuidar-se da mesma coisa. Feita essa digressão conceitual, o interesse do artigo volta-se para o discipulado horizontal, visando recolher as melhores práticas da Grande Comissão desenvolvidas pela igreja local. Ao fazer isso, chegou-se às três principais vertentes que representam os modelos mais adequados para o fazer discípulos na igreja hoje: o discipulado na comunidade, o discipulado em pequenos grupos e o discipulado um a um.

Ao  se  pesquisar  autores  selecionados  como  promotores dessas vertentes, o que se verificou foi que, em geral, eles partiram da lacuna estratégica que perceberam na igreja de seus dias. Mark Dever, por exemplo, busca corrigir a falta de consciência da membresia bíblica e de suas implicações no discipulado. Joel Comiskey preocupa-se com a falta de vivência dos mandamentos recíprocos do Novo Testamento em igrejas que se reúnam apenas em cultos públicos. Por fim, Waylon Moore denuncia a apatia generalizada da igreja em formar indivíduos capazes de se reproduzirem.

No fim das contas, as três vertentes acabam por enfatizar aspectos de uma mesma ordem missão: fazer discípulos. Enfatizar um aspecto, dentro de um contexto, não significa ignorar ou desconsiderar os demais; pelo contrário, pode pressupor amanutenção daquilo contra o que se contrasta a nova ênfase que se quer dar. De fato, nenhum dos proponentes das vertentes estudadas reivindica a extinção das demais instâncias de discipulado na igreja. Até mesmo Comiskey, que ataca o discipulado um a um, reconhece nele uma iniciativa válida para a formação de líderes de pequenos grupos, restando somente a divergência se esse treinamento deveria ser ou não chamado de discipulado, preferindo o termo coaching. Por tudo isso, conclui-se que as vertentes poderiam ser melhor descritas como dimensões, visto se tratarem de três meios não excludentes de fazer discípulos na igreja local.

Finalmente, vale registrar o que aconteceu em um dos encontros do Grupo de Pesquisa que se debruçou sobre o assunto no Seminário do Sul/Faculdade Batista do Rio de Janeiro em 2018. Após o diálogo produzido entre as vertentes de discipulado horizontal, um dos alunos-pesquisadores externou a seguinte percepção: “Se Mark Dever, Joel Comiskey e Waylon Moore se assentassem à mesa para conversar, talvez chegassem a um consenso”. Provavelmente, sim. Seja como for, espera-se que o presente artigo contribua para demonstrar àqueles a quem compete implementar o discipulado na igreja local, pastores e líderes, que as três dimensões são complementares, e não excludentes.

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