Estudo e Cultura de João Cap. 2
Milagre da água para vinho
Significado de João 2
João 2
2.1,2 — Ao terceiro dia significa o terceiro dia depois do último dia mencionado (Jo 1.43), Ir de onde João batizava até Caná levava acerca de três dias de caminhada. Caná ficava cerca de sete quilômetros ao norte de Nazaré. A informações estava ali a mãe de Jesus e foram também convidados Jesus e os seus discípulos nos dá a entender que Jesus e os discípulos haviam sido convidados por causa de Maria. O fato de ter pedido a ajuda de Jesus quando o vinho acabou também sugere que Maria fosse parente da família anfitriã.
2.3 — A hospitalidade no Oriente era um dever sagrado. As bodas geralmente duravam uma semana, e acabar o vinho em um evento tão importante era algo humilhante para os noivos. A família de Jesus não era rica, e certamente Seus parentes e familiares tampouco. Essa deve ter sido uma festa muito simples.
Embora Jesus ainda não tivesse se relevado como o Filho de Deus, o Messias, Maria sabia da condição divina dele, pois certamente jamais se esquecera do nascimento miraculoso do filho. Ela deve ter se lembrado das palavras do anjo Gabriel, registradas em Lucas 1.32,33: Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Mas amigos e familiares provavelmente não acreditassem nela. Por conta disso, talvez, Maria estivesse ansiosa pelo dia em que seria justificada perante eles. De todo modo, mesmo que tais pensamentos estivessem passando por sua mente, Maria não pediu a Jesus que Ele fizesse algo a respeito. Ela apenas disse a Ele o que estava acontecendo; ela deixou que Jesus agisse segundo Sua vontade e sabedoria. Quanto a isso, talvez tenhamos de aprender com Maria!
2.4 — Mulher era uma forma respeitosa de se dirigir a alguém (Jo 19.26). Ainda não é chegada a minha hora parece indicar que a hora de Jesus realizar Seus milagres, revelando-se como o Messias, ainda não havia chegado. A mesma expressão é usada em outras passagens; veja João 7.6,8,30; 8.20; 12.23; 13.1; 16.32; 17.1.
2.5 — A resposta de Jesus a Maria parece demonstrar que Ele se recusou a fazer algo a respeito. Mas, ainda assim, ela esperava que Ele o fizesse. Talvez, o tom de voz de Jesus tenha feito com que Maria percebesse que Ele faria alguma cosia. Fazei tudo quanto ele vos disser. Eis um conselho maravilhoso! E isso nos traz à memória passagens como Provérbios 3.5,6, Salmos 37.4 e Mateus 6.33. A plena obediência traz alegria, satisfação e transformação.
2.6 — E estavam ali postas seis talhas. Em cada talha cabia duas ou três metretas, o que perfazia um total de 480 a 720 litros do mais puro vinho (v. 10). A metreta era uma medida de capacidade de cerca de 40 litros (nv i) .
Para a purificação dos judeus. A tradição judaica exigia vários tipos de rituais de purificação. Os judeus mais rígidos lavavam as mãos antes, durante e depois das refeições. E essa purificação não ficava apenas na lavagem das mãos, mas se estendia também aos copos, vasos, jarros e camas (Mc 7.3,4).
Já que as estradas não eram pavimentas e as pessoas usavam sandálias, a água era muito importante para lavar os pés. Em circunstâncias como uma festa de casamento, que durava alguns dias, era preciso uma grande quantidade de água.
2.7-10 — O mestre-sala. Nas bodas judaicas, um dos convidados ficava responsável pela festa, como um mestre-de-cerimônias. Essa pessoa era encarregada de levar os convidados às mesas e de cuidar do perfeito andamento da festa. O vinho bom. Geralmente, era servido primeiro o vinho de melhor qualidade. Então, depois de os convidados estarem satisfeitos, o vinho de qualidade inferior era servido. Na festa em questão, esse segundo vinho era tão bom que o mestre-sala ficou surpreso com o fato de o terem servido no fim da festa, e não no início.
2.11 — Jesus principiou assim os seus sinais (gr. semeion). No Evangelho de João, os milagres de Jesus são chamados de sinais para mostrar que Ele era o Messias. Há sete sinais no Evangelho de João que são descritos em sequência (Jo 4.46-54; 5.1-9; 6.1-14; 6.15-21; 9.1-7 e 11.38-44). O texto aqui deixa bem claro que os sinais eram para manifestar a glória de Cristo, ou seja, a Sua divindade. Quando Jesus transformou água em vinho, Ele demonstrou Seu poder criativo. Ele fez em poucos segundos o que geralmente era feito em semanas ou meses. Milton disse: “A água ficou ruborizada quando viu Seu Criador” . Essa é a primeira vez que o texto diz que Seus discípulos creram nele. Às vezes, seguir vem antes de crer; outras vezes, crer vem antes de seguir.
2.12 — Desceu a Cafarnaum. Caná ficava em uma região elevada de Israel e Cafarnaum ficava ao norte, às margens do mar da Galileia, abaixo do nível do mar. Eles tinham de descer para ir de Caná a Cafarnaum. Jerusalém, por outro lado, ficava no topo de um monte e era preciso subir para se chegar nela (Jo Z.13).
2.13 — E estava próximo a Páscoa dos judeus. Todo homem judeu tinha de ir a Jerusalém três vezes por ano — para a Festa da Páscoa, a Festa do Pentecostes e a Festa dos Tabernáculos (Ex 23.14-19; Lv 23).
Jerusalém. Os Evangelhos Sinóticos — Mateus, Marcos e Lucas — dão mais ênfase ao ministério de Jesus na Galileia. João se concentra mais no ministério de Jesus em Jerusalém. Entretanto, os vários relatos não se contradizem; ao contrário, se complementam.
2.14 — E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados. Os Evangelhos Sinóticos descrevem a purificação do templo no final do ministério de Jesus (Mt 21.12, 13), enquanto no de João esse episódio é mencionado no início (v. 14-17). Ao que parece, Jesus purificou o templo em duas ocasiões diferentes. Os relatos dos Sinóticos e os de João diferem bastante, indicando que houve dois eventos distintos. A Lei de Moisés exigia que todo animal oferecido em sacrifício fosse sem mancha, e que todo varão judeu acima de 19 anos deveria pagar imposto ao templo (Lv 1.3; Dt 17.1). Por essa razão, era necessário que houvesse coletores de impostos e inspetores no templo para verificar os animais a serem oferecidos em sacrifício. Tais oficiais, entretanto, não aceitavam moedas pagãs porque elas traziam a imagem do imperador romano, a quem os pagãos adoravam como um deus. Depositar essas moedas no gazofilácio do templo era considerado um insulto. Então, para suprir os visitantes com animais e moedas aceitáveis, vendedores de animais e cambistas montavam suas bancas no átrio externo do templo. Os inspetores, coletores e cambistas, entretanto, agiam desonestamente, pois cobravam preços muito altos.
2.15 — O chicote de cordas (nvi) que Jesus usou era um objeto simples, e não uma arma propriamente dita. Contudo, serviu muito bem para espalhar as moedas dos cambistas e os animais que eram vendidos ali. Essa atitude de Jesus era um sinal de autoridade e juízo.
2.16,17 — Tirai daqui estes e não façais da casa de meu Pai casa de vendas. A purificação do templo foi a primeira apresentação pública de Jesus a Israel; Ele se apresentou como o Messias. O ministério do Messias começou no templo; Ele veio para purificá-lo (M13.1-3).
O termo casa de meu Pai era uma declaração bem clara de que Jesus é o Messias. Nas bodas de Caná, Ele mostrou Sua divindade e Seu poder; aqui, Ele mostrou Sua autoridade. E, ao se lembrarem das palavras do salmos 69.9 — Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim —, os discípulos entenderam que Jesus estava declarando ser o Messias.
2.18 — Os judeus provavelmente eram os líderes religiosos de Israel (Jo 1.19), que também entenderam que Jesus estava se apresentando como o Messias; foi por isso que eles pediram a Ele um sinal (1 Co 1.22).
2.19 — Derribai este templo e em três dias o levantarei. Jesus não estava falando do templo material, e sim do Seu próprio corpo, como João deixa bem claro no versículo 21. Jesus estava falando da Sua morte.
O levantarei. Jesus não disse: Eu o construirei novamente. Ele estava referindo-se à Sua ressurreição, três dias após Sua morte. O sinal que Jesus deu aos judeus foi Sua morte e ressurreição (Mt 12.39; 16.4).
2.20 — Quarenta e seis anos. Herodes começara a restauração do templo por volta de 19 a.C., e, até aquela altura, a obra ainda não tinha acabado. Na verdade, ela só foi concluída por volta do ano 64 d.C. por Herodes Agripa.
2.21,22 — Quando, pois, ressuscitou dos mortos, os seus discípulos lembraram-se de que lhes dissera isso. Os discípulos entenderam que Jesus era o Messias (v. 17; 1.41,45,49), mas não entenderam que Ele estava falando da ressurreição do Seu corpo até que isso de fato aconteceu.
2.23 — Muitos […] creram no seu nome. O propósito de João em deixar registrado os milagres de Jesus era que as pessoas cressem e tivessem a vida eterna (Jo 20.30,31). Muitos afirmam que, embora o texto diga que muitos creram, as pessoas não exerceram a fé verdadeira em Jesus. Uma vez que se baseava apenas nos milagres de Jesus, não se tratava da fé salvadora. Além disso, muito concluem que Jesus não confiava nessas pessoas (v. 24). De todo modo, João declara que deixou registrado os milagres de Jesus para que todos cressem e tivessem a vida eterna 0 ° 20.30,31). O texto diz também que muitos creram, uma construção gramatical que em todo o Novo Testamento indica fé salvadora. Além disso, elas creram no seu nome, uma frase usada somente mais duas vezes no Evangelho de João, e que em ambas as ocorrências alude à fé salvadora (Jo 1.12; 3.18).
2.24 — Jesus não confiava neles. O verbo confiar aqui é o mesmo verbo grego traduzido por creram no versículo 23. Há um jogo de palavras. Essas pessoas criam em Jesus, mas Jesus não confiava nelas. Nicodemos é um exemplo disso. E João sabiamente une essa parte do seu Evangelho à história de Nicodemos. Ele diz que Jesus bem sabia o que havia no homem (gr. antropos, v. 25), e então continua: E havia entre os fariseus um homem (gr. antropos) chamado Nicodemos (3.1). Nicodemos, assim como José de Arimateia, era um discípulo secreto (Jo 19.38,39). Por isso que o Senhor não confiava neles como confiava em outros, como, por exemplo, os apóstolos (Jo 15.15). Temos de perguntar a nós mesmos o quanto somos confiáveis (Lc 16.1-13). Talvez Jesus estivesse usando o princípio da disponibilidade para ver se havia verdade neles (veja, por exemplo, Jo 16.4 e Jo 15.5).
2.25 — Porque ele bem sabia o que havia no homem. No texto grego, o sujeito ele é bem enfatizado. Sem que alguém lhe dissesse coisa alguma, Jesus conhecia o coração das pessoas. Ele via tudo nas pessoas como se estivesse vendo um outdoor, outra indicação da Sua divindade. No Antigo Testamento, somente Deus disse ser conhecedor do coração de todas as pessoas (1 Rs 8.39).
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Fonte: Biblioteca Bíblica