Lição 02 – As Promessas de Deus Para Israel – Subsídios Adultos
Comentário Exegético Profundo da Leitura Bíblica em Classe – Gênesis 12:1-3; Romanos 9:1-5
O chamado de Abrão ocorre em um período em que as civilizações estavam concentradas em cidades-estados como Ur, onde Abrão residia (Gn 11:31). A cultura mesopotâmica era politeísta, mas o Senhor, o único Deus verdadeiro, chama Abrão a uma vida de fé monoteísta. O deslocamento de sua terra natal era um grande desafio cultural e social, pois envolvia romper com laços familiares e a segurança de sua região conhecida.
Abrão, mais tarde chamado Abraão (Gn 17:5), é o patriarca da fé, não apenas de Israel, mas também dos cristãos (Rm 4:16) e de muitos povos do mundo antigo. O chamado a “sair” é emblemático de sua jornada espiritual, na qual ele deveria confiar plenamente na direção de Deus, abandonando tudo para seguir um propósito divino.
Aspectos Exegéticos e Teológicos:
Gênesis 12:1
- “Sai-te” (יָצָא, yatsá) – Este verbo denota uma saída ativa e decisiva. Deus não apenas sugere a Abrão, mas ordena que ele saia de seu contexto familiar e cultural. Este “sair” é um movimento espiritual, que aponta para o princípio de separação e consagração a Deus.
- “Terra que eu te mostrarei” – O conceito de terra (אֶרֶץ, erets) é central no pacto de Deus com Abrão. A terra prometida não é apenas uma localização geográfica, mas um símbolo da bênção, herança e presença de Deus com o Seu povo. Esta terra se tornaria Canaã, o futuro lar dos israelitas (Gn 17:8).
Gênesis 12:2
- “Far-te-ei uma grande nação” – O verbo hebraico עשָה (asáh), traduzido como “fazer”, carrega a ideia de que é Deus quem criará e realizará a promessa de formar uma nação. Israel, a nação prometida, surge por um ato soberano de Deus.
- “Abençoar-te-ei” (בָּרַךְ, barak) – A bênção em Gênesis 12:2 tem uma conotação de prosperidade, proteção e favor divino. Essa bênção não é apenas material, mas espiritual, e aponta para a plenitude da aliança entre Deus e Abrão, que transcende gerações.
Gênesis 12:3
- “Abençoarei os que te abençoarem” – Esta frase estabelece um princípio de reciprocidade divina. A aliança de Deus com Abraão é tão forte que aqueles que o abençoarem também serão abençoados.
- “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” – A promessa messiânica está implícita aqui. O verbo “benditas” (נִבְרְכוּ, nivrechu) está no sentido passivo, indicando que através de Abrão todas as nações seriam favorecidas. Esta bênção se cumpre em Cristo, descendente de Abraão, que abençoa todas as nações com a salvação (Gl 3:8, 16).
Ao estudarmos este texto é importante destacar que a promessa de Deus a Abraão é a fundação da história de Israel, mas também tem implicações para todos os cristãos. Abraão foi chamado a confiar em Deus e a sair de sua zona de conforto, uma lição que se aplica aos nossos dias, quando somos desafiados a viver pela fé e a seguir o chamado divino, mesmo sem ver o destino completo (Hb 11:8).
A bênção prometida a Abraão se estende a nós em Cristo. Deus nos chama a ser abençoadores, assim como Abraão, impactando nossas famílias e nossa comunidade com o favor de Deus. Em um contexto de Escola Dominical, os alunos podem ser encorajados a refletir sobre como a bênção de Deus, recebida por meio de Cristo, deve fluir através de nós para abençoar os outros. Somos desafiados a sermos agentes de bênção, vivendo e ensinando o evangelho.
Referências Bíblicas:
- Hebreus 11:8-10 – O exemplo de fé de Abraão ao seguir o chamado de Deus, mesmo sem saber para onde ia.
- Romanos 4:13-17 – A promessa a Abraão de ser pai de muitas nações e o papel da fé na justificação.
- Gálatas 3:7-9, 16 – A promessa de que em Abraão todas as nações seriam abençoadas se cumpre em Cristo.
- Mateus 1:1 – Jesus é identificado como o descendente de Abraão, cumprindo a promessa messiânica.
Este texto destaca o pacto entre Deus e Abraão como um dos momentos fundacionais da história bíblica e sua relevância tanto para Israel quanto para a Igreja hoje.
Em Romanos 9:1-5, Paulo está escrevendo sua carta à igreja em Roma, que consistia em judeus e gentios. No contexto imediato, ele expressa sua profunda dor pela situação de Israel, o povo escolhido de Deus, que, em grande parte, não reconheceu Jesus como o Messias. Este trecho se passa em um momento de intensa transição no plano de Deus, onde a salvação é anunciada não apenas aos judeus, mas também aos gentios (Rm 1:16). A comunidade judaica tinha grandes expectativas messiânicas, mas a rejeição de Cristo por muitos israelitas causa grande angústia a Paulo, ele mesmo judeu.
Os israelitas possuíam uma herança espiritual distinta, com promessas, leis e cerimônias que os separavam como o povo de Deus. Essa rejeição nacional ao Evangelho é o tema central dos capítulos 9 a 11 de Romanos, onde Paulo explora o papel de Israel no plano redentor de Deus.
Aspectos Exegéticos e Teológicos:
Romanos 9:1
- “Em Cristo digo a verdade” – Paulo utiliza a expressão ἐν Χριστῷ (en Christō), afirmando que sua declaração está ancorada na sua união com Cristo, o que confere autoridade e veracidade à sua declaração. Ele é movido pelo Espírito Santo, cujo testemunho em sua consciência confirma a sinceridade de suas palavras.
- “Não minto” (οὐ ψεύδομαι, ou pseúdomai) – Este termo grego enfatiza a veracidade da confissão de Paulo. Ele reafirma que suas emoções e pensamentos sobre Israel são genuínos, combatendo qualquer suposição de indiferença.
Romanos 9:2
- “Grande tristeza” (λύπη μεγάλη, lýpē megalē) – O termo grego lýpē revela a angústia profunda que Paulo sente pela situação espiritual de Israel. Sua dor não é superficial, mas contínua e intensa, causada pela rejeição do Messias por parte de seus compatriotas.
- “Contínua dor” (ἀδιάλειπτος, adialeiptos) – Esta palavra descreve uma dor incessante, que não dá trégua a Paulo. Ele se sente constantemente afligido pela incredulidade de Israel.
Romanos 9:3
- “Ser separado de Cristo” (ἀνάθεμα, anathema) – Este é um dos termos mais fortes do Novo Testamento, que significa “amaldiçoado” ou “banido”. Paulo está disposto a sacrificar sua própria salvação, se fosse possível, para o bem de seus compatriotas. Aqui vemos a intensidade do amor sacrificial que reflete o amor de Cristo pela humanidade.
- “Meus parentes segundo a carne” – Refere-se aos judeus, com quem Paulo compartilha laços étnicos e culturais. Ele destaca a unidade étnica com Israel, apesar de seu novo status em Cristo.
Romanos 9:4
- “Adoção de filhos” (υἱοθεσία, huiothesía) – No contexto judaico, a adoção refere-se ao relacionamento especial que Israel tinha com Deus. Eles foram escolhidos como o povo de Deus (Ex 4:22), uma nação separada para Ele.
- “Concertos” (διαθῆκαι, diathēkai) – Este termo refere-se às alianças estabelecidas entre Deus e Israel, desde Abraão até Moisés e Davi. As alianças são promessas solenes e eternas, vinculando Israel ao plano redentor de Deus (Gn 12:1-3; 2 Sm 7:12-16).
- “A glória” (δόξα, dóxa) – Refere-se à presença manifesta de Deus entre o Seu povo, especialmente visível no tabernáculo e no templo (Ex 40:34). Israel foi privilegiado por ser a nação onde Deus habitou de maneira visível.
Romanos 9:5
- “Dos quais são os pais” – Os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó foram os antepassados de Israel, portadores das promessas divinas. O termo πατέρες (patéres) destaca a herança espiritual e genealógica que Israel detinha.
- “Cristo, segundo a carne” (ὁ Χριστός, ho Christós) – O Messias veio fisicamente através da linhagem de Israel, destacando a importância do papel de Israel no cumprimento do plano de salvação. Jesus era judeu “segundo a carne”, cumprindo as promessas feitas aos patriarcas.
- “Deus bendito eternamente” (θεὸς εὐλογητὸς, theós eulogētós) – Paulo encerra sua afirmação com um louvor exaltado, reconhecendo a divindade e soberania de Cristo. Esta doxologia reafirma a convicção cristológica de que Cristo é Deus sobre todas as coisas.
No contexto da lição intitulada “As Promessas de Deus Para Israel“, este trecho de Romanos 9:1-5 tem um peso significativo. Paulo lamenta profundamente a rejeição de Israel ao Messias, e essa angústia reflete o coração de Deus em relação à Sua aliança com o povo judeu. As promessas de Deus a Israel, como a adoção, as alianças e a lei, ainda são válidas, mas encontram seu cumprimento pleno em Cristo.
Este texto nos ensina sobre a responsabilidade espiritual que temos com aqueles que ainda não aceitaram o Evangelho, seja dentro de nosso círculo familiar ou em nossa comunidade. A preocupação de Paulo por Israel deve nos mover a interceder por aqueles que ainda estão distantes da fé. Além disso, é um lembrete da soberania de Deus e de Seu plano de redenção, que inclui tanto judeus quanto gentios, unidos em Cristo.
Referências Bíblicas:
- Romanos 10:1 – Paulo reafirma sua oração pela salvação de Israel.
- Êxodo 4:22 – Israel é chamado de “filho primogênito” de Deus, destacando sua adoção como nação.
- Deuteronômio 7:6-8 – A escolha de Israel como povo separado por Deus e o amor incondicional de Deus por eles.
- Isaías 49:6 – A missão de Israel de ser luz para as nações, refletindo o plano redentor de Deus para o mundo.
- Gálatas 3:16 – Paulo destaca que as promessas feitas a Abraão têm seu cumprimento em Cristo, o descendente prometido.
Este comentário destaca a profunda herança espiritual de Israel, enquanto nos aponta para Cristo, o cumprimento de todas as promessas. Ele nos lembra da fidelidade de Deus em Suas alianças e da responsabilidade que temos de compartilhar o Evangelho com todos os povos.