Os métodos de interpretação da Bíblia (Parte 1)
Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia
O método histórico-crítico de interpretação é um método de interpretação da Bíblia próprio do liberalismo teológico, que é a sua base ideológica. É também chamado de Alta Crítica.
A gênese do método histórico-crítico está no Iluminismo, quando os homens passaram a achar que a própria razão, a análise crítica e racional, é o suficiente para o homem entender o mundo e resolver os seus problemas. A filosofia predominante era o racionalismo. Essa influência fez surgir o deísmo e, a partir daí, o liberalismo teológico. O liberalismo e o seu método histórico-crítico nasceram originalmente no deísmo, mas hoje é adotado até mesmo por teólogos agnósticos.
No método histórico-crítico, a interpretação da Bíblia deixou de ser uma tarefa para entender o que o autor queria dizer para ser uma tarefa de questionamento da produção do texto. O objetivo era tirar do cânon formal o cânon normativo. O teólogo alemão Johann Salomo Semler (1725-1791) dizia: “A raiz de todos os males (na teologia) é usar os termos ‘Palavra de Deus’ e ‘Escritura’ como se fossem idênticos”. Logo, segundo ele, era preciso distinguir e separar a “Palavra de Deus” da “Escritura”. O que Semler estava querendo dizer com isso é que a Escritura conteria erros e contradições ao lado de palavras que provêm de Deus. Estava implícita também nesta declaração a descrença na possibilidade do sobrenatural na história, devido à influência do racionalismo e do deísmo. Rejeitava-se a infalibilidade e a autoridade das Escrituras. Foi a partir desses pressupostos teológicos que o método histórico-crítico foi construído.
As etapas do método histórico-crítico são:
I – Crítica das Fontes – Partia do princípio de que os textos bíblicos eram edições feitas a partir de várias fontes diferentes, e usavam como pista qualquer aparente diferença de vocabulário ou estilo, repetições de histórias e digressões. A primeira hipótese desse tipo de crítica foi a Hipótese Documentária, que cria nas fontes Eloísta, Javista, Deuteronomista e do Quarto Documento no Antigo Testamento. Segundo os defensores dessa teoria, a Bíblia Hebraica teria sido editada para aglutinar quatro fontes. Tudo começou com um médico francês chamado Jean Astruc, que em 1753 levantou a tese de duas fontes – Eloísta e Javista – em Gênesis.
II – Crítica da Forma – Ainda mais radical. Já que poder-se-ia dizer ainda que as fontes se baseavam em tradição oral, então os liberais partiram para a crítica da forma do texto. Todos os textos tinham uma intenção política e eram manipulados. Bultmann chega a dizer que menos de 10% das falas de Jesus foram realmente proferidas por Ele. Tentam diferenciar o “Jesus da Fé” do “Jesus Histórico”.
III – Crítica da Redação – Objetivava identificar as “edições” na redação do texto bíblico e expurgá-las para extrair o que seria real e historicamente confiável segundo os liberais.
Nas últimas décadas, o método histórico-crítico começou a declinar. Por quê?
a) Caiu-se na real de que, na verdade, nunca fora um método neutro.
b) O subjetivismo inerente aos critérios utilizados para reconhecer a Palavra de Deus dentro do cânon fez com que os resultados fossem completamente diferentes, ao ponto de até hoje não existir um consenso do que seria a Palavra de Deus dentro do cânon reconhecido e aceito pelos próprios críticos.
c) O objetivo era impossível. Uma vez que desacreditava as Escrituras, elas perdiam todo o valor. Então, para que entender Deus pela Bíblia? Cada um passaria a ter uma teologia subjetiva agora. Daí o surgimento da Hermenêutica Pós-moderna
d) As igrejas aceitaram o liberalismo social e murcharam. As passagens contrárias à visão do liberalismo social foram vistas como “cânon formal” e não “cânon normativo”. As igrejas esfriaram, pois os pastores não pregavam mais a Bíblia e não oravam, apenas “meditavam”. As igrejas esvaziaram e morreram na Europa e em outras regiões.
Um detalhe importante é que, apesar de Karl Barth ter a sua importância, a Neo-ortodoxia também adotou o método histórico-crítico e é, em essência, mais relacionada ao liberalismo do que propriamente à ortodoxia.