
A sutil, mas profunda distinção entre servir na obra de Deus e apenas trabalhar para Ele faz toda a diferença no cansaço, propósito e relacionamento com Cristo
Por Patrícia Esteves
Em um cenário onde as agendas estão lotadas de eventos, ministérios e atividades, é fácil confundir intensidade com intimidade. A rotina frenética de tarefas e compromissos no ambiente cristão pode até transmitir a sensação de produtividade espiritual, mas será que todo esse movimento corresponde, de fato, a um coração que serve? Ou estamos, sem perceber, apenas trabalhando para Deus? Entender a diferença entre trabalhar e servir a Deus não é apenas um detalhe de conceito, é um convite a revisitar a motivação e o centro da fé.
A pastora Patrícia Cunha, membro da Igreja Brasas Vivas, de Xaxim/SC, explicando que “trabalhar na obra de Deus, muitas vezes, está ligado a cumprir tarefas, metas, expectativas. Pode até parecer uma obrigação”.
De acordo com ela, esse caminho, embora bem-intencionado, costuma gerar cansaço, frustração e comparação, especialmente quando não há reconhecimento humano. “Quando a gente está só trabalhando, muitas vezes está desconectado do próprio Deus, porque ficamos focados apenas na atividade e acabamos esquecendo que Ele é a fonte de tudo aquilo que a gente faz”, diz.
Esse é o momento onde os riscos se tornam claros, pois a atividade substitui a intimidade, e o engajamento ministerial toma o lugar do relacionamento com o Senhor da obra. Um exemplo clássico, citado pela pastora, é a passagem de Marta e Maria (Lucas 10.38-42). “Marta estava trabalhando. E muito”, destaca Patrícia.

O texto bíblico narra como Marta ficou ansiosa e inquieta com as tarefas domésticas enquanto Maria escolheu sentar-se aos pés de Jesus, ouvindo a Sua palavra. “Jesus não repreendeu Marta pelo trabalho, mas pela ansiedade, por ter colocado isso como prioridade. E essa não é a ordem certa”, explica.
O que é servir a Deus de verdade?
“Servir é diferente. Servir vem de um lugar de resposta de amor e gratidão a Deus”, afirma a pastora. A diferença entre trabalhar e servir a Deus começa na intenção do coração. Servir não é movido pela necessidade de aceitação, de aprovação ou de reconhecimento. “O foco é servir com nossos dons, nosso tempo, nossa energia, porque tudo vem dele. É um serviço que traz paz e renovo, porque nasce do coração”.
Quando o cristão serve, mesmo que haja cansaço físico, há satisfação interior, pois existe um propósito claro e um senso de estar conectado com a vontade de Deus. “Quando eu sirvo com consciência, mesmo que eu me canse fisicamente, fico satisfeita, porque eu sei que tem um propósito. Há paz no coração”, detalha.

A Bíblia reforça essa ideia quando Jesus ensina, em João 15.5, que é necessário permanecer na videira para dar frutos duradouros. “A gente tem que estar sempre ligado na videira. Permanecer na videira. Senão, vem o agricultor, o viticultor, como diz a Bíblia, e corta os ramos que não dão frutos”, lembra Patrícia.
Como identificar quando estamos apenas trabalhando?
A linha é tênue, mas há sinais que ajudam no discernimento. De acordo com Patrícia Cunha, quando a pessoa está exausta, ansiosa, sobrecarregada e com dificuldade de dizer não, provavelmente ela está mais focada no trabalhar para Deus do que no servir a Deus. “Eu preciso dar uma pausa e rever a intenção do meu coração. Preciso voltar para a fonte, voltar para o secreto, voltar para o altar”, fala.
A obra do Senhor não deve afastar ninguém do Senhor da obra. Servir é mais do que fazer – é permanecer nEle enquanto fazemos. “Nós precisamos ter essa consciência, nada pode nos roubar da presença de Deus”, conclui a pastora Patrícia Cunha. O segredo está em priorizar o relacionamento com Cristo, para que o trabalho não se transforme em um peso sem propósito. Afinal, Maria escolheu a boa parte. E, segundo Jesus, isso jamais seria tirado dela.
Revista Comunhão