Folia gospel no Carnaval: luz no meio da escuridão ou caminho perigoso?

Algumas igrejas montam blocos gospel com intuito de evangelizar no Carnaval. Foto: reprodução redes sociais

Muitas igrejas aproveitam essa época para evangelizar e usam estratégias, como blocos com música gospel. Mas até que ponto isso é saudável para os jovens cristãos?

Bloco de Carnaval evangélico, palco com shows gospel e evangelismo na folia. Os “foliões de Cristo” se preparam para participar da principal festa popular brasileira longe dos tradicionais retiros espirituais para ficarem mais perto da “tentação”. Criticado por uns, mas defendido por quem vê nisso uma estratégia de manter o jovem na igreja e testemunhar de Jesus, o fato é que essa linha tênue entre o sagrado e o profano requer uma atenção redobrada.

E há vários eventos assim nessa época do ano. A Igreja Bola de Neve, em Santos, litoral paulista, promove, no dia 1º de março, o “Arrastão de Jesus”, que contará com a “Batucada Abençoada”, além de outras atrações como Victin Christafari, DJ Drinão, entre outros cantores.

Presente em diferentes estados brasileiros, em imagem o 'Batucada Abençoada'da Bola de Neve Ubatuba (SP). Foto: Instagram / Batucada Abençoada.
A Igreja Bola de Neve promove, no dia 1º de março, o “Arrastão de Jesus”, que contará com a “Batucada Abençoada”. Foto: Instagram / Batucada Abençoada.

A Bahia, claro, berço do Carnaval nacional, não poderia ficar de fora. Lá acontece o “Impacto de Carnaval 2025”, na Praça da Sé, centro histórico de Salvador, com shows de Sal da Terra, Tirza, Dj Bruninho Music, Nengo Vieira e Marcos Semeadores.

Este ano, a Igreja Missão Praia da Costa, localizada na região da Grande Vitória (ES), dará ênfase a uma programação mais fechada com os jovens, voltada à vigília e Santa Ceia. Mas em outros anos, eles também aproveitavam a orla, na época do Carnaval, para evangelizar. “Por vários anos realizamos uma Conferência de Carnaval e um ‘bloco de Evangelismo’, com um trio-elétrico na orla de Itaparica”, destaca o pastor da igreja, Rogério Breder.

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Já o pastor Amauri Oliveira, presidente da Igreja Presbiteriana da Penha (IPP), em São Paulo, acredita que essa época do ano é ideal para o evangelismo urbano. “As missões urbanas podem mobilizar as igrejas em seus retiros, cultos, seminários e ações evangelísticas. A evangelização acontece de maneira maciça no Carnaval. Há milhares de retiros espirituais pelo Brasil que reúnem milhões de pessoas, portanto, é também uma época de avivamentos e conversões. A diferença é só uma questão de mídia em cima do Carnaval”, ressalta.

Aliás, o pastor enfatiza que todos os anos cada vez mais pessoas têm preferido fugir do Carnaval, mesmo aqueles que não pertencem a uma religião específica. “É necessário entender que a grande maioria da população brasileira não aprecia o Carnaval, e uma parte considerável dessa maioria até abomina essa festividade. Milhões se refugiam em sítios e locais tranquilos para fugir dessa festa. As pessoas têm escolhas, e ao optar pela igreja em vez do Carnaval, elas estão reconhecendo que essa é uma escolha melhor para suas vidas. O Carnaval é uma festa sem pudor e invasiva”, afirma Oliveira.

Carnaval não é simplesmente uma festa popular

Mesmo com toda a boa iniciativa de evangelismo, todo cuidado é pouco para o cristão nessa época do ano, afinal, longe de ser uma simples festa cultural e popular, o Carnaval também tem aspectos espirituais envolvido. E muito fortes. Esta semana, por exemplo, durante uma entrevista ao videocast Conversa Vai, Conversa Vem, do jornal O Globo, o famoso carnavalesco Milton Cunha deixou claro que o Carnaval é uma festa da macumba e que o toque dos tambores é uma forma de invocar os espíritos.

“Macumba é o termo usado pela negritude como sinônimo do batuque. Ele sistematizado é o candomblé e a umbanda. A escola de samba é filha, tributária do batuque. Então, escola de samba é macumba, acabou. Gostem ou não, meu amor. Os ogãs saíram dos terreiros e foram tocar na bateria. As baterias tocam para os orixás. A macumba é causadora maravilhosa de toda essa procissão, essa inteligência negra periférica”, afirma Cunha.

Folia gospel no Carnaval: luz no meio da escuridão ou caminho perigoso?
Pastor William Lourenço Braga, o Lilico como era conhecido no meio, foi mestre-sala da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, e tinha profundas ligações com a umbanda e o candomblé, até aceitar a Jesus. Foto: reprodução internet

Quem confirma essa ligação com o espiritual é alguém que também entende do assunto e que hoje serve a Deus. Pastor William Lourenço Braga, o Lilico como era conhecido no meio, foi mestre-sala da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, e tinha profundas ligações com a umbanda e o candomblé, até aceitar a Jesus.

Durante uma entrevista ao podcast PodCrê, ele contou como funcionam os rituais que envolvem o Carnaval, bem como os ensaios das escolas de samba. Na sua opinião, o cristão deveria evitar ir a locais assim, mesmo com a boa intenção de evangelizar.

“Por que eu preciso ir lá na Marquês de Sapucaí evangelizar? ‘Dá uma olhada nesse folheto’. Quem em sã consciência lá no desfile vai olhar um folheto? Não existe isso. Há pessoas que vão para evangelizar e há os que saem de lá convertido. Mas sou contra usar o samba para isso…quando bota o bloco na rua, surdo, tamborim, pessoal sambando (em nome de Jesus). O batuque faz invocação. Cada instrumento desses tem uma entidade que está de frente dele. O repinique salva um orixá”, alerta Braga.

Ele conta que durante um tempo achava que não tinha problema frequentar a igreja e continuar no samba, já que ele apenas tocava um instrumento musical. Até que um dia, uma experiência sobrenatural mudou sua visão sobre isso para sempre. Ele conta que, durante um show em um hotel, houve uma representação de orixás.

Quando começou a tocar o atabaque, uma mulher incorporou a pomba-gira cigana. Então ela veio na direção dele e falou baixinho: “Tu não é filho daquele homem lá de cima? Tá tocando para mim né?”. E o pastor continua: “Naquele momento caiu a minha ficha. As lágrimas desceram. E no coração eu pedia ao Senhor para me perdoar. Não se pode agradar a dois senhores”, alerta.

É preciso ganhar o mundo sem agir como mundanos

Na opinião do pastor e professor acadêmico, Geraldo Moyses Gazolli Junior, que é mestre em Ciências da Religião e doutorando em Teologia, é preciso evangelizar o mundo, mas tomar cuidado para não agir como um mundano.

“Certa vez ouvi um pregador dizer que técnicas mundanas apenas atraem pessoas mundanas. Precisamos ser alternativa ao mal presente, aos liberalismos deste século. Jesus sempre oferecia mudança de vida e temos que ir pelo mesmo caminho. É uma tendência perigosa buscar a validação do mundo”, afirma. O pastor diz que, nessa época, o alerta em relação a vida espiritual deve ser redobrado.

“Portanto, a participação em evangelismos durante o Carnaval requer uma avaliação cuidadosa para evitar que a exposição às práticas mundanas comprometa a integridade espiritual dos jovens. Em 1 Cor 10:12 diz que ‘aquele que está em pé cuidado para não cair’. O Carnaval é, por si, um evento focado em atender aos desejos e prazeres. ‘Há tempo para tudo’, diz Eclesiastes 3:1. Um cristão maduro saberia a hora de evangelizar e a hora de atender ao chamado ‘sai dela povo meu’ (Ap 18:4)”, orienta o pastor, que conclui:

“Estamos no mundo, mas não somos dele. Em 1 Tessalonicenses 5:22 Paulo diz: ‘Abstende-vos de toda forma de mal’. E Jesus é direto ao dizer ‘Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes me odiou. Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia’ (João 15:18)”.

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