
Comentário Exegético Profundo da Leitura Bíblica em Classe
Texto João 1:1-4; 9-14
JOÃO 1:1 – “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (João 1:1)
Contexto Histórico e Cultural
O Evangelho de João foi escrito no final do primeiro século, em um contexto onde a igreja primitiva enfrentava desafios tanto do judaísmo quanto do helenismo. O prólogo (João 1:1-18) serve como uma introdução teológica ao Evangelho, apresentando Jesus Cristo como o *Logos* (Verbo), uma figura central que une a revelação divina do Antigo Testamento com a filosofia grega. O termo *Logos* era familiar tanto para os judeus (que associavam a Palavra de Deus com a criação e a revelação, cf. Gênesis 1; Salmo 33:6) quanto para os gregos (que viam o *Logos* como a razão ou princípio ordenador do universo). João, inspirado pelo Espírito Santo, eleva o *Logos* a um nível divino, afirmando a divindade de Jesus Cristo.
O Arianismo, uma heresia do século IV, negava a divindade plena de Jesus Cristo, afirmando que Ele era um ser criado e não coeterno com o Pai. João 1:1 é um texto-chave para refutar essa heresia, pois afirma claramente a eternidade, a distinção pessoal e a divindade do *Logos*.
1. “No princípio era o Verbo” (Ἐν ἀρχῇ ἦν ὁ Λόγος – *En archē ēn ho Logos*):
- A expressão “no princípio” (ἐν ἀρχῇ) ecoa Gênesis 1:1, indicando que o *Logos* existia antes da criação, ou seja, desde a eternidade. O verbo “era” (ἦν) está no imperfeito grego, denotando uma ação contínua no passado, enfatizando a eternidade do *Logos*.
- O *Logos* não é um ser criado, mas pré-existente, contrariando diretamente a afirmação ariana de que “houve um tempo em que o Filho não existia”.
2. “O Verbo estava com Deus” (ὁ Λόγος ἦν πρὸς τὸν Θεόν – *ho Logos ēn pros ton Theon*):
- A preposição “com” (πρὸς – *pros*) sugere uma relação íntima e pessoal entre o *Logos* e Deus. Não é uma mera proximidade, mas uma comunhão ativa e eterna.
- Isso refuta a ideia de que Jesus é uma criatura distante de Deus; pelo contrário, Ele está em perfeita união com o Pai.
3. “O Verbo era Deus” (καὶ Θεὸς ἦν ὁ Λόγος – *kai Theos ēn ho Logos*):
- Aqui, a divindade do *Logos* é explicitamente afirmada. A construção gramatical grega é significativa: “Θεὸς” (Deus) aparece sem o artigo definido (ὁ), o que não diminui sua divindade, mas enfatiza a natureza divina do *Logos*.
- O Arianismo tentou distorcer essa passagem, argumentando que a falta do artigo definido indicaria que Jesus é “um deus” menor. No entanto, a gramática grega e o contexto teológico confirmam que o *Logos* é plenamente Deus, compartilhando a mesma essência divina do Pai.
Palavras-Chave em Grego e Seus Significados
- Λόγος (Logos): Significado: “Verbo”, “Palavra”, “Razão”. Aplicação: No contexto joanino, o *Logos* é a expressão máxima de Deus, a auto-revelação divina que se encarnou em Jesus Cristo (João 1:14). O *Logos* não é apenas um conceito abstrato, mas uma pessoa divina que se fez carne para revelar o Pai e redimir a humanidade.
- Θεὸς (Theos): Significado: “Deus”. Aplicação: A afirmação de que o *Logos* era Θεὸς é uma declaração ousada da divindade de Jesus. No contexto da refutação ao Arianismo, essa palavra é crucial para afirmar que Jesus não é um deus menor ou criatura, mas o próprio Deus em essência.
Para surpreender ainda mais, considere que João 1:1 não apenas refuta o Arianismo, mas também antecipa e responde a desafios teológicos futuros. O *Logos* que estava “no princípio” é o mesmo que se fez carne (João 1:14), unindo de forma indissolúvel a divindade e a humanidade em Jesus Cristo. Essa verdade não é apenas um dogma teológico, mas a base da esperança cristã: o Deus eterno entrou na história para salvar a humanidade. Portanto, João 1:1 não é apenas um versículo sobre quem Jesus é, mas um convite a crer nEle como Senhor e Deus (João 20:28).

JOÃO 1:2 – “Ele estava no princípio com Deus.” (João 1:2)
1. “Ele estava no princípio” (Οὗτος ἦν ἐν ἀρχῇ – *Houtos ēn en archē*):
- O pronome “Ele” (Οὗτος – *Houtos*) refere-se diretamente ao *Logos* mencionado no versículo 1. A repetição da expressão “no princípio” (ἐν ἀρχῇ) conecta este versículo ao anterior, enfatizando a eternidade do *Logos*.
- O verbo “estava” (ἦν) novamente aparece no imperfeito grego, indicando uma existência contínua e eterna. Isso contradiz a afirmação ariana de que Jesus teve um começo.
2. “Com Deus” (πρὸς τὸν Θεόν – *pros ton Theon*):
- A preposição “com” (πρὸς) repete a ideia de uma relação íntima e pessoal entre o *Logos* e Deus. Essa relação não é estática, mas dinâmica e ativa, indicando uma comunhão eterna.
- Isso refuta a ideia de que Jesus é uma criatura distante de Deus; pelo contrário, Ele está em perfeita união com o Pai desde toda a eternidade.
Palavras-Chave em Grego e Seus Significados
- Ἐν ἀρχῇ (En archē): Significado: “No princípio”. Aplicação: Esta expressão não apenas ecoa Gênesis 1:1, mas também afirma a pré-existência do *Logos*. O *Logos* não tem um começo; Ele existia antes de todas as coisas, reforçando Sua eternidade e divindade.
- Πρὸς τὸν Θεόν (Pros ton Theon): Significado: “Com Deus”. Aplicação: A preposição πρὸς indica uma relação face a face, de intimidade e comunhão. Isso mostra que o *Logos* não é uma mera emanação ou criação de Deus, mas uma pessoa distinta em relação eterna com o Pai.
Portanto, João 1:2 não é apenas uma declaração sobre a natureza eterna de Jesus, mas também um lembrete de que a salvação oferecida por Ele é fundamentada na eternidade. Aquele que estava com Deus no princípio é o mesmo que veio ao mundo para trazer luz e vida a todos os que creem nEle (João 1:4-5). Essa verdade não apenas refuta o Arianismo, mas também nos convida a confiar em Jesus como nosso Senhor e Salvador eterno.
JOÃO 1:3 – “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.”
- “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele” (πάντα δι’ αὐτοῦ ἐγένετο – *panta di’ autou egeneto*):
- A expressão “todas as coisas” (πάντα) é abrangente, incluindo tudo o que existe no universo material e espiritual. O uso do termo “por intermédio dele” (δι’ αὐτοῦ) indica que o *Logos* é o agente instrumental da criação.
- Isso ecoa passagens como Colossenses 1:16 (“pois nele foram criadas todas as coisas”) e Hebreus 1:2 (“por quem também fez o universo”), reforçando a divindade de Cristo como Criador.
- “Sem ele nada do que foi feito se fez” (χωρὶς αὐτοῦ ἐγένετο οὐδὲ ἕν – *chōris autou egeneto oude hen):
- A expressão “sem ele” (χωρὶς αὐτοῦ) enfatiza a exclusividade do *Logos* no ato criativo. Nada veio a existir independentemente dEle.
- A frase “nada do que foi feito” (οὐδὲ ἕν) é enfática, deixando claro que não há exceções. Isso inclui o tempo, o espaço, a matéria e até mesmo os seres espirituais, reafirmando que o *Logos* transcende a criação.
Palavras-Chave em Grego e Seus Significados
- Δι’ αὐτοῦ (Di’ autou): Significado: “Por intermédio dele”. Aplicação: Esta preposição indica mediação. O *Logos* não é apenas a causa final da criação (Deus Pai), mas o agente ativo através do qual a criação ocorre. Isso mostra Sua divindade e Seu papel essencial na obra criativa de Deus.
- Ἐγένετο (Egeneto): Significado: “Foi feito”, “veio a existir”. Aplicação: O verbo γίνομαι (*ginomai*) é usado para descrever a criação como um ato de trazer algo à existência. No contexto de João 1:3, ele enfatiza que o *Logos* é o meio pelo qual todas as coisas passaram a existir, contrastando com a eternidade do *Logos* (João 1:1-2).
Para surpreender ainda mais, considere que João 1:3 não apenas afirma a divindade de Jesus, mas também revela Sua centralidade no plano de Deus. O *Logos* que criou todas as coisas é o mesmo que se encarnou para redimir a criação caída (João 1:14). Isso significa que a obra de Jesus na cruz não foi um “plano B”, mas parte do propósito eterno de Deus, que incluiu a criação, a queda e a redenção.
JOÃO 1:4 – “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.”
João 1:4 marca uma transição no prólogo do Evangelho de João, passando da criação (João 1:3) para o tema da vida e da luz. No mundo judaico, a vida era vista como um dom de Deus (Gênesis 2:7; Salmo 36:9), e a luz era frequentemente associada à revelação divina e à salvação (Salmo 27:1; Isaías 9:2). No contexto grego, a luz era um símbolo de conhecimento e verdade, enquanto a vida era um conceito central na filosofia e na religião. João, ao afirmar que a vida e a luz estão no *Logos*, une essas ideias, mostrando que Jesus Cristo é a fonte de vida espiritual e a revelação definitiva de Deus.
- “Nele estava a vida” (ἐν αὐτῷ ζωὴ ἦν – *em autō zōē ēn*):
- A expressão “nele estava a vida” (ἐν αὐτῷ ζωὴ ἦν) indica que a vida tem sua origem e permanência no *Logos*. O verbo “estava” (ἦν) está no imperfeito grego, sugerindo uma existência contínua e eterna.
- Isso reflete a ideia de que o *Logos* não apenas possui vida, mas é a própria fonte da vida (cf. João 5:26: “Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo”). Isso contradiz a afirmação ariana de que Jesus é uma criatura dependente.
- “E a vida era a luz dos homens” (καὶ ἡ ζωὴ ἦν τὸ φῶς τῶν ἀνθρώπων – *kai hē zōē ēn to phōs tōn anthrōpōn*):
- A vida no *Logos* não é apenas biológica, mas espiritual e eterna. Essa vida é descrita como “a luz dos homens” (τὸ φῶς τῶν ἀνθρώπων), indicando que ela traz revelação, salvação e entendimento espiritual.
- A luz é um tema central no Evangelho de João, representando a verdade, a pureza e a presença de Deus (cf. João 8:12: “Eu sou a luz do mundo”). Ao afirmar que a vida no *Logos* é a luz dos homens, João mostra que Jesus é a revelação máxima de Deus e a fonte da salvação.
Palavras-Chave em Grego e Seus Significados
- Ζωὴ (Zōē): Significado: “Vida”. Aplicação: No contexto joanino, ζωὴ refere-se não apenas à vida física, mas à vida espiritual e eterna que vem através de Jesus Cristo (cf. João 10:10: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”). Essa vida é um dom divino, disponível apenas através do *Logos*.
- Φῶς (Phōs): Significado: “Luz”. Aplicação: A luz no Evangelho de João simboliza a revelação de Deus, a verdade e a salvação. Ao afirmar que a vida no *Logos* é a luz dos homens, João mostra que Jesus é a revelação definitiva de Deus e a única fonte de salvação (cf. João 12:46: “Eu vim como luz para o mundo”).
Para surpreender ainda mais, considere que João 1:4 não apenas afirma a divindade de Jesus, mas também revela Seu papel como Salvador. O *Logos* que é a fonte da vida e a luz dos homens é o mesmo que se encarnou para trazer salvação a um mundo em trevas (João 1:14; 3:19). Isso significa que a vida e a luz oferecidas por Jesus não são conceitos abstratos, mas realidades espirituais disponíveis a todos os que creem nEle.

JOÃO 1:9 – “A verdadeira luz, que vinda ao mundo, ilumina todos os homens.”
João 1:9 é uma declaração cristológica poderosa. A “verdadeira luz” (φῶς τὸ ἀληθινόν, *phos to alēthinon*) refere-se a Jesus Cristo, que é distinto de todas as outras fontes de iluminação espiritual ou filosófica. A luz que Ele traz não é parcial ou temporária, mas completa e eterna. O termo ἀληθινόν (*alēthinon*) significa “verdadeiro” no sentido de genuíno, autêntico e definitivo. Em contraste com as luzes falsas ou parciais (como as ideias filosóficas ou religiosas humanas), Jesus é a única luz que revela plenamente Deus e a verdade sobre a existência humana.
Outra palavra-chave é φωτίζει (*phōtizei*), que significa “iluminar”. Este verbo indica uma ação contínua e abrangente. A luz de Cristo não está limitada a um grupo específico; ela “ilumina todos os homens”. Isso reflete a universalidade da missão de Jesus, que veio para toda a humanidade, não apenas para Israel (cf. João 3:16). Essa iluminação não é meramente intelectual, mas espiritual, trazendo revelação, salvação e transformação.
Palavras-Chave em Grego e Seus Significados
- φῶς τὸ ἀληθινόν (phos to alēthinon) “a luz verdadeira”. φῶς (phos) significa “luz”. No contexto bíblico, a luz é frequentemente associada à revelação divina, à pureza e à vida (cf. Salmo 36:9; Isaías 60:1-3). No Novo Testamento, Jesus é identificado como a luz que dissipa as trevas do pecado e da ignorância (João 8:12; 1 João 1:5). ἀληθινόν (alēthinon) significa “verdadeiro” no sentido de genuíno, autêntico e definitivo. Essa palavra contrasta com o que é falso, parcial ou temporário. Ao chamar Jesus de “a luz verdadeira”, João está afirmando que Ele é a única fonte autêntica de revelação e salvação, superior a todas as outras pretensas “luzes” (sejam filosóficas, religiosas ou espirituais). Aplicação Teológica: Jesus não é apenas uma luz entre muitas, mas a luz definitiva e universal. Isso refuta qualquer ideia de que Ele seja um ser criado ou inferior (como afirmava o arianismo), pois somente Deus pode ser a fonte definitiva de luz e verdade.
- φωτίζει (phōtizei) – “ilumina”. Este verbo deriva de φῶς (phos, “luz”) e significa “iluminar”, “trazer à luz” ou “dar entendimento”. No contexto de João 1:9, φωτίζει indica uma ação contínua e abrangente: a luz de Cristo está constantemente iluminando toda a humanidade. No Antigo Testamento, a ideia de iluminação está ligada à revelação da lei e da sabedoria divina (cf. Salmo 119:105). No Novo Testamento, essa iluminação se cumpre em Jesus, que revela o Pai e traz salvação (João 14:9; 2 Coríntios 4:6). Aplicação Teológica: A iluminação de Cristo não é limitada a um grupo específico, mas estende-se a “todos os homens”. Isso reforça a universalidade do evangelho e a divindade de Jesus, pois somente Deus tem o poder de iluminar toda a humanidade de maneira tão abrangente e transformadora.
João 1:9 é uma declaração poderosa sobre a identidade e a missão de Jesus Cristo. Ele é a φῶς τὸ ἀληθινόν (phos to alēthinon), a luz verdadeira e definitiva, que transcende todas as outras fontes de iluminação. Sua luz não é apenas para um povo ou época, mas para toda a humanidade, como evidenciado pelo verbo φωτίζει (phōtizei), que indica uma ação contínua e universal.
Essa passagem refuta diretamente o arianismo, que negava a divindade plena de Cristo. Ao chamar Jesus de “a luz verdadeira”, João afirma que Ele não é uma criatura, mas o próprio Deus encarnado, a fonte definitiva de revelação e salvação. Além disso, a universalidade de Sua iluminação demonstra que Ele é o cumprimento das promessas do Antigo Testamento e a resposta final às buscas humanas por verdade e significado.
Surpreendentemente, João 1:9 também nos desafia a responder à luz de Cristo. Embora Ele ilumine a todos, nem todos O recebem (João 1:10-11). No entanto, para aqueles que O recebem, Ele concede o direito de se tornarem filhos de Deus (João 1:12). Portanto, este versículo não apenas revela a divindade de Jesus, mas também nos convida a caminhar em Sua luz e a refletir essa luz ao mundo.

JOÃO 1:10 – “Estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu.”
João 1:10 contém três afirmações principais sobre Jesus:
- “Estava no mundo“: O Verbo encarnado, Jesus Cristo, habitou entre os seres humanos (cf. João 1:14).
- “O mundo foi feito por intermédio dele“: Jesus é o agente da criação, reforçando Sua divindade e eternidade (cf. João 1:3; Colossenses 1:16).
- “O mundo não o conheceu“: Apesar de ser o Criador, Jesus foi rejeitado pela humanidade.
Palavras-Chave em Grego e Seus Significados
- κόσμος (*kosmos*) “mundo”. No Evangelho de João, κόσμος tem múltiplos significados. Pode se referir ao universo criado (João 1:3), à humanidade em geral (João 3:16) ou ao sistema mundano em rebelião contra Deus (João 15:18). Aqui, κόσμος abrange tanto a criação física quanto a humanidade que a habita. Aplicação Teológica: O mundo foi criado por Jesus (δι’ αὐτοῦ, *di’ autou*, “por intermédio dele”), mas paradoxalmente, Ele foi rejeitado por ele. Isso destaca a gravidade do pecado humano e a profundidade da encarnação, em que o Criador assume a forma da criatura.
- ἔγνω (*egnō*) “conheceu”. O verbo γινώσκω (*ginōskō*) significa “conhecer” no sentido de reconhecer, compreender ou ter um relacionamento íntimo. Aqui, está no aoristo (ἔγνω), indicando uma ação pontual: o mundo falhou em reconhecer Jesus como o Criador e Salvador. Aplicação Teológica: A rejeição de Jesus pelo mundo não foi por falta de evidência, mas por causa da cegueira espiritual e da rebeldia humana (cf. João 3:19; 2 Coríntios 4:4).
O arianismo, que negava a divindade plena de Cristo, é refutado por João 1:10. Ao afirmar que o mundo foi feito δι’ αὐτοῦ (*di’ autou*, “por intermédio dele”), João reitera que Jesus é o agente da criação, uma função que só pode ser atribuída a Deus (cf. Gênesis 1:1; Salmo 33:6). Além disso, a rejeição de Jesus pelo mundo não diminui Sua divindade; pelo contrário, ressalta a incredulidade humana e a necessidade da graça salvadora.
João 1:10 é um versículo profundamente paradoxal e trágico. Ele revela a profundidade do amor de Deus, pois o Criador entrou em Sua criação, e a profundidade da rebeldia humana, pois a criação rejeitou o Criador. A rejeição de Jesus pelo mundo não foi um acidente histórico, mas um reflexo da condição caída da humanidade, que prefere as trevas à luz (João 3:19).
Surpreendentemente, essa rejeição não impediu o plano redentor de Deus. Pelo contrário, ela se tornou o cenário para a maior demonstração de amor: a cruz de Cristo (cf. João 3:16; Romanos 5:8). Portanto, João 1:10 nos convida a refletir sobre nossa resposta a Jesus. Reconhecemos Ele como o Criador e Salvador, ou O rejeitamos como o mundo fez?
JOÃO 1:11 – “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.”
João 1:11 contém duas afirmações principais:
- “Veio para o que era seu“: Jesus, o Verbo encarnado, veio ao mundo que Ele criou (cf. João 1:10) e, especificamente, ao povo de Israel, que era Sua possessão especial (cf. Êxodo 19:5; Salmo 135:4).
- “Os seus não o receberam“: Apesar de ser o Messias prometido, Jesus foi rejeitado pela maioria de Seu próprio povo.
Palavras-Chave em Grego e Seus Significados
- ἴδια (*idia*) “o que era seu”. O termo ἴδια é um adjetivo neutro plural que significa “o que é próprio” ou “o que pertence a alguém”. Aqui, refere-se ao mundo criado e, mais especificamente, ao povo de Israel, que era a possessão especial de Deus (cf. Deuteronômio 7:6). Aplicação Teológica: Jesus veio ao que era Seu, demonstrando que Ele é o dono e Senhor de todas as coisas. No entanto, Sua vinda ao povo de Israel destaca o cumprimento das promessas messiânicas do Antigo Testamento.
- Παρέλαβον (*parelabon*) “receberam”. O verbo παραλαμβάνω (*paralambanō*) significa “receber”, “aceitar” ou “acolher”. No contexto de João 1:11, está no aoristo (παρέλαβον), indicando uma ação pontual: a rejeição de Jesus por Seu próprio povo. Aplicação Teológica: A rejeição de Jesus pelos judeus não foi por falta de evidência, mas por causa da dureza de coração e da cegueira espiritual (cf. João 12:37-40). Essa rejeição cumpre as profecias do Antigo Testamento sobre o Servo Sofredor (cf. Isaías 53:3).
O arianismo, que negava a divindade plena de Cristo, é refutado por João 1:11. Ao afirmar que Jesus veio ao que era Seu (ἴδια, *idia*), João reitera que Ele é o dono e Senhor de todas as coisas, uma afirmação que só pode ser feita sobre Deus. Além disso, a rejeição de Jesus pelos judeus não diminui Sua divindade; pelo contrário, ressalta a incredulidade humana e a necessidade da graça salvadora.
João 1:11 é um versículo profundamente trágico e paradoxal. Ele revela a profundidade do amor de Deus, pois o Messias veio ao Seu próprio povo, e a profundidade da rebeldia humana, pois Ele foi rejeitado. Essa rejeição não foi um acidente histórico, mas um cumprimento das profecias do Antigo Testamento sobre o Servo Sofredor (cf. Isaías 53:3).
Surpreendentemente, essa rejeição não impediu o plano redentor de Deus. Pelo contrário, ela se tornou o cenário para a maior demonstração de amor: a cruz de Cristo (cf. João 3:16; Romanos 5:8). Além disso, a rejeição pelos judeus abriu caminho para a inclusão dos gentios no povo de Deus (cf. Romanos 11:11-12).
JOÃO 1:12 – “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome.”
João 1:12 contém três afirmações principais:
- “A todos quantos o receberam“: A recepção de Jesus não é automática, mas depende de uma resposta pessoal de fé.
- “Deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus“: Aqueles que recebem Jesus são adotados na família de Deus, tornando-se Seus filhos.
- “Aos que creem no seu nome“: A fé no nome de Jesus é o meio pelo qual essa adoção ocorre.
Palavras-Chave em Grego e Seus Significados
- ἔδωκεν (*edōken*) “deu-lhes”. O verbo δίδωμι (*didōmi*) significa “dar” e, aqui, está no aoristo (ἔδωκεν), indicando uma ação pontual e decisiva. Deus concede o direito de se tornar filho dEle àqueles que recebem Jesus. Aplicação Teológica: A adoção como filhos de Deus não é algo que conquistamos, mas um dom gratuito de Deus, baseado na obra redentora de Jesus (cf. Efésios 1:5).
- τέκνα Θεοῦ (*tekna Theou*) “filhos de Deus”. O termo τέκνα (*tekna*) significa “filhos” no sentido de descendência ou relação familiar. Aqui, refere-se à nova relação espiritual que os crentes têm com Deus por meio de Jesus. Aplicação Teológica: Tornar-se filho de Deus implica em uma transformação radical, na qual o crente é regenerado pelo Espírito Santo (cf. João 3:3-8) e recebe uma nova identidade em Cristo (cf. 2 Coríntios 5:17).
O arianismo, que negava a divindade plena de Cristo, é refutado por João 1:12. Ao afirmar que Jesus concede o direito de se tornar filho de Deus àqueles que creem nEle, João reitera que Jesus é divino, pois somente Deus pode conceder tal direito. Além disso, a ideia de adoção como filhos de Deus pressupõe a obra redentora de Jesus, que só pode ser realizada por alguém que é plenamente Deus e plenamente homem.
Surpreendentemente, João 1:12 também nos desafia a refletir sobre nossa resposta a Jesus. Recebemos Ele como Senhor e Salvador, ou O rejeitamos como muitos fizeram? Que possamos, como estudiosos e crentes, proclamar a verdade de João 1:12: Jesus é o Filho de Deus que concede a todos os que creem nEle o direito de se tornarem filhos de Deus, membros da família divina e herdeiros das promessas eternas (cf. Romanos 8:16-17).
JOÃO 1:13 – “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.”
- “Egennēthēsan” (ἐγεννήθησαν). Significado: “Egennēthēsan”, traduzido como “nasceram”, deriva de “gennaō”, que significa “dar à luz” ou “produzir”. Neste contexto, refere-se ao novo nascimento espiritual, uma regeneração que vem de Deus. Aplicação Teológica: “Egennēthēsan” sublinha que o nascimento espiritual não é resultado de esforço humano, mas da obra divina. Este novo nascimento é essencial para entrar na família de Deus (cf. João 3:3-5). Apenas o Deus verdadeiro tem o poder de gerar vida espiritual, o que confirma que a filiação divina é um ato exclusivo da graça de Deus por meio de Cristo.
- “Sarx” (σάρξ). Significado: “Sarx”, traduzido como “carne”, refere-se à natureza humana em sua fragilidade e corrupção. Aqui, indica que o novo nascimento não é resultado de desejo ou esforço humano. Aplicação Teológica: “Sarx” enfatiza que a regeneração não é alcançada por meios naturais ou por obras humanas, mas é um ato sobrenatural de Deus. Isso destaca a dependência total da graça divina para a salvação. A palavra refuta a ideia de que qualquer poder humano, seja individual ou coletivo, possa contribuir para o nascimento espiritual.
- “Theos” (θεός). Significado: “Theos”, traduzido como “Deus”, é o agente final e soberano do novo nascimento. Ele é a fonte e o autor da vida espiritual. Aplicação Teológica: “Theos” confirma que a filiação divina não depende de linhagem, mérito ou ação humana, mas exclusivamente de Deus. Isso reforça a divindade de Jesus, pois é por meio d’Ele que Deus concede o novo nascimento (cf. João 14:6). Apenas Deus pode trazer vida espiritual, uma verdade que contradiz o arianismo, pois tal ato requer uma relação direta com a divindade de Cristo.
João 1:13 explica a natureza do novo nascimento, enfatizando que ele é exclusivamente obra de Deus e não resultado de esforços humanos. As palavras “egennēthēsan”, “sarx” e “theos” destacam que a regeneração espiritual é sobrenatural, independente de meios naturais e inteiramente dependente da graça divina por meio de Cristo. Este verso confirma que Jesus, sendo Deus, é essencial para trazer os homens à filiação divina, refutando qualquer visão que diminua Sua natureza divina. A salvação é um ato de Deus, soberano e gracioso.

JOÃO 1:14 – “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”
- “Sarx” (σάρξ), traduzida como “carne”, refere-se à natureza humana na sua fragilidade e limitação. Neste contexto, indica que o “Logos” eterno assumiu plenamente a humanidade, tornando-se verdadeiramente humano. Aplicação Teológica: “Sarx” demonstra a encarnação de Cristo, em que Ele, sem perder Sua divindade, assumiu a natureza humana. Esse ato revela a profundidade de Sua humildade (Filipenses 2:7) e confirma que a salvação veio por meio de um Deus que se fez homem. Refuta o docetismo, uma heresia que negava a plena humanidade de Cristo, insistindo que Sua “carne” era apenas aparente.
- “Eskēnōsen” (ἐσκήνωσεν). Significado: “Eskēnōsen”, traduzido como “habitou”, deriva de “skēnóō”, que significa “armar tenda” ou “tabernacular”. Evoca a ideia do tabernáculo no Antigo Testamento, onde a presença de Deus habitava entre o povo (Êxodo 25:8-9). Aplicação Teológica: “Eskēnōsen” aponta para Jesus como o cumprimento do tabernáculo, sendo Ele a presença visível de Deus entre os homens. Como o Deus encarnado, Ele tabernaculou entre nós, proporcionando acesso direto a Deus, antes limitado à estrutura do templo. Isso reforça Sua plena divindade e humanidade, invalidando qualquer ideia de que Ele fosse apenas uma manifestação parcial de Deus.
- “Monogenēs” (μονογενής). Significado: “Monogenēs”, traduzido como “unigênito”, combina “monos” (único) e “genos” (tipo ou espécie). Não significa “gerado” no sentido de criação, mas indica a singularidade e exclusividade de Jesus como o Filho único e eterno de Deus. Aplicação Teológica: “Monogenēs” ressalta a relação única de Jesus com o Pai, sendo Ele de mesma essência divina (cf. Hebreus 1:3). Como o “unigênito”, Jesus é o único que revela perfeitamente o Pai (João 14:9), demonstrando Sua coeternidade e igualdade com Deus. Isso refuta o arianismo, que negava a eternidade e a divindade plena de Cristo.
- “Doxa” (δόξα). Significado: “Doxa”, traduzida como “glória”, refere-se à manifestação visível do caráter divino. No Antigo Testamento, “doxa” estava associada à Shekinah, a presença gloriosa de Deus que enchia o tabernáculo e o templo (Êxodo 40:34-35). Aplicação Teológica: “Doxa” indica que em Jesus se revelou a plena glória de Deus, de forma tangível e acessível. A glória vista pelos discípulos (João 2:11; Mateus 17:1-2) manifesta não apenas Seus milagres, mas Sua essência divina, caracterizada por graça e verdade. Isso reafirma que Jesus é o Deus eterno, cuja glória não foi diminuída, mas velada em Sua humanidade. Essa glória é única ao Filho, compartilhando a essência do Pai, como o “unigênito”.
João 1:14 apresenta o ponto culminante do prólogo: o “Logos” eterno se fez carne, tabernaculando entre nós, revelando a glória de Deus de forma única e tangível. As palavras “sarx”, “eskēnōsen” e “monogenēs” destacam que Jesus, plenamente Deus e plenamente homem, é a revelação suprema e definitiva do Pai. Este verso destrói qualquer heresia que rebaixe Jesus a um ser criado, afirmando Sua divindade absoluta e Sua missão redentora de habitar entre nós para trazer salvação. Jesus é a glória manifesta de Deus, cheio de graça e verdade para todos os que O recebem.
Provas da Divindade de Cristo
Ensino Arianista | Refutação Bíblica | Referência Bíblica |
Jesus foi criado por Deus e, portanto, não é eterno. | Jesus é eterno e estava com Deus “no princípio”, participando da criação de todas as coisas. | João 1:1-3; Colossenses 1:16 |
Jesus não possui a mesma essência de Deus. | Jesus é a “expressa imagem” de Deus e compartilha da mesma essência divina. | Hebreus 1:3 |
Jesus é inferior ao Pai em natureza. | Jesus afirmou: “Eu e o Pai somos um”, indicando igualdade na essência e unidade divina. | João 10:30 |
Jesus é apenas um mensageiro exaltado. | Jesus é adorado como Deus, algo reservado exclusivamente a Deus. | Apocalipse 5:12-14 |
Jesus não tem autoridade divina total. | Toda autoridade no céu e na terra foi dada a Jesus, mostrando Sua soberania divina. | Mateus 28:18 |
Jesus não pode perdoar pecados, pois isso é prerrogativa exclusiva de Deus. | Jesus perdoou pecados, evidenciando Sua autoridade divina. | Marcos 2:5-7 |
Jesus é uma criatura elevada, mas não o Criador. | Jesus é o Criador de todas as coisas, e nada foi feito sem Ele. | João 1:3; Colossenses 1:16 |
Jesus não é plenamente Deus. | Em Jesus habita “toda a plenitude da divindade corporalmente”. | Colossenses 2:9 |
Jesus foi exaltado apenas após a ressurreição. | Jesus tinha glória com o Pai antes da criação do mundo. | João 17:5 |
Jesus não é Senhor de todas as coisas. | Jesus é chamado “Senhor dos senhores” e “Rei dos reis”, título reservado somente a Deus. | Apocalipse 19:16 |
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Silvio Costa
Evangelista (COMADEESO / CGADB), Articulista, Conferencista, Escritor, Conteudista (ESTEMAD), Professor de Teologia (SEET / FATEG) e Gestor Hoteleiro por Profissão