

Subsidio Lição 10 : A promessa do Espirito | EBD Adulto CPAD | 2º Trimestre 2025 | Comentarista Pastor Elianai Cabral
TEXTO ÁUREO
“ E, havendo dito isso, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.” (Jo 20.22)
VERDADE PRÁTICA
A promessa do Pai não se restringe a um grupo particular ou a um período específico, mas inclui todos aqueles que se arrependem e creem no Evangelho.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
João 14.16-18,26; 16.7,8,13 ; 20.21,22
INTRODUÇÃO
Nesta lição, vamos analisar dois momentos significativos: em primeiro lugar, a afirmação de Jesus aos seus discípulos de que eles receberiam o Espírito Santo, que inicialmente atuaria na vida do pecador para promover a conversão (em relação ao pecado, justiça e juízo). Em seguida, estabeleceremos uma ligação entre essa visão regeneradora da Promessa do Espírito em João e a perspectiva capacitadora a respeito do Espírito, que encontramos no Livro de Atos dos Apóstolos, escrito pelo evangelista Lucas.
PALAVRA-CHAVE

ESPÍRITO
I – A PROMESSA DO PAI
1. Jesus enviará o Consolador.
No Evangelho de João, capítulo 14, lemos: “ele vos dará outro Consolador” (v.16). Este Consolador é o Espírito Santo que “habita convosco e estará em vós” (v.17). No capítulo 16, é mencionado que quando o Consolador chegar “convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (v.8), evidenciando a atuação regeneradora da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Após anunciar sua partida, o Senhor não deixou seus discípulos sem direção ou amparo. Pelo contrário, afirmou com clareza que rogaria ao Pai, e este lhes enviaria outro Consolador, o Espírito Santo. Essa declaração não foi feita apenas para acalmar os corações aflitos, mas para garantir que a obra divina continuaria através da presença constante do Espírito no meio do seu povo. O uso da palavra “outro” no texto (Jo 14.16) indica alguém da mesma natureza, ou seja, o Espírito Santo é tão divino quanto o próprio Cristo. Ele não viria como substituto inferior, mas como aquele que daria continuidade à missão do Filho de Deus.
O Consolador prometido não seria apenas uma força ou influência impessoal. Jesus afirmou que o Espírito habitaria com os crentes e estaria neles (Jo 14.17), revelando sua atuação íntima e constante na vida dos fiéis.
Essa presença interior transforma, ensina, consola, fortalece e conduz o cristão à verdade. Diferente do relacionamento que os discípulos tiveram com Jesus de forma visível e externa, o Espírito Santo estabeleceria um relacionamento interno, permanente e transformador.
Ao lermos João 16.8, compreendemos que o Consolador não apenas sustenta a Igreja, mas também exerce uma ação poderosa no mundo. Sua missão envolve convencer o mundo do pecado, mostrando a realidade da separação entre Deus e os homens; da justiça, revelando que Cristo é o padrão perfeito e que subiu ao Pai; e do juízo, declarando que o príncipe deste mundo já está condenado. Essas três ações são fundamentais para a regeneração do pecador e para o avanço do Reino de Deus. Assim, a obra do Espírito é tanto individual quanto coletiva, tanto interior quanto exterior, e sempre conduz à glorificação de Cristo (Jo 16.14).
2. O Consolador.
A palavra grega traduzida como “consolador” é paráklêtos, cujo significado refere-se a alguém chamado para ajudar, encorajar ou interceder por outra pessoa. Assim, um paráklêtos assemelha-se a um amigo que desempenha o papel de advogado ou consultor especial, ou ainda como um assistente que auxilia em momentos importantes. A expressão “outro consolador” designa o Espírito Santo como uma Pessoa. O termo grego állos significa “outro”, indicando assim a distinção dele em relação a outros indivíduos da mesma natureza, reafirmando a singularidade do Espírito Santo em relação às outras duas pessoas da Trindade, mas também a sua igualdade com elas (Jo 14.16).
O termo grego utilizado por João, paráklêtos, carrega uma riqueza de significados que revelam a profundidade da função do Espírito Santo na vida do povo de Deus.Ele está conosco, não como espectador, mas como participante ativo, atuando como conselheiro, defensor, auxiliador e companheiro constante.
A expressão utilizada por Jesus em João 14.16 — “outro Consolador” — carrega um detalhe linguístico importante: o termo állos, que significa “outro da mesma espécie”. Com isso, Cristo estava afirmando que o Espírito Santo viria exercer uma função semelhante à que Ele mesmo exercia enquanto presente fisicamente com os discípulos.
Isso demonstra tanto a pessoalidade do Espírito quanto a sua divindade. Ele não é uma força impessoal ou uma influência abstrata, mas uma Pessoa que age com vontade, inteligência e sentimento. Ele fala (At 13.2), ensina (Jo 14.26), testifica (Jo 15.26), guia (Jo 16.13) e intercede (Rm 8.26-27), evidenciando suas características pessoais.
Ao apresentar o Espírito Santo como “Consolador”, Jesus também estava assegurando aos discípulos que, mesmo ausente fisicamente, Ele continuaria cuidando deles. O Pai enviaria o Espírito para permanecer com os discípulos para sempre (Jo 14.16), destacando sua presença contínua — algo que nem mesmo o ministério terreno de Cristo ofereceu da mesma forma, já que, durante a encarnação, o Senhor esteve limitado à forma humana. Com o envio do Consolador, a presença de Deus se tornou interior e permanente no coração dos que creem, cumprindo assim o propósito eterno de Deus de habitar entre seu povo (Ez 36.27).
Além disso, o Consolador não veio apenas para confortar em tempos difíceis. Sua missão também é confrontar, ensinar e conduzir à verdade. Ele não apenas consola, mas também transforma. Ele não somente anima, mas também disciplina. Sua atuação é completa, moldando o caráter cristão, orientando a Igreja na missão evangelizadora e fortalecendo cada crente para resistir às pressões do mundo.
3. “Não vos deixarei órfãos”.
A palavra grega para “órfãos”, presente em João 14.18, é órphanós. Quando Jesus morreu, os discípulos sentiram-se órfãos. Deve ter sido difícil aceitar o fato de que o Senhor, o Cristo de Deus, estava morto. Não foi por acaso que nosso Senhor chamava os seus discípulos de “filhinhos” (Jo 13.33). Nesta relação pessoal entre Jesus e os seus discípulos, nosso Senhor garantia que eles nunca ficariam órfãos, desamparados ou desprezados.
A palavra grega órphanós, além de significar alguém sem pai ou mãe, transmite também a ideia de abandono, de estar sem direção ou proteção. No contexto daquela declaração, os discípulos estavam prestes a enfrentar a maior crise emocional e espiritual de suas vidas: a morte do Mestre. Após anos caminhando com Jesus, ouvindo seus ensinos, testemunhando milagres e aprendendo diretamente com Ele, o anúncio de Sua partida certamente os abalou profundamente. Eles temiam ficar sozinhos, inseguros e indefesos diante de um mundo hostil.
Jesus, conhecendo as aflições do coração humano, antecipa-se a esse sentimento de abandono e assegura: “Eu voltarei para vós.” Essa promessa aponta não apenas para a ressurreição, que trouxe novo ânimo aos discípulos, mas também para a vinda do Espírito Santo, o Consolador que continuaria a presença divina entre eles.
Jesus não deixaria seus seguidores ao acaso, pois Ele sabia o quanto o ser humano precisa de orientação, presença e cuidado. A missão que os discípulos deveriam cumprir exigiria mais do que coragem natural — exigiria a habitação do próprio Deus em seus corações. E essa habitação se daria por meio do Espírito Santo, o mesmo que ainda hoje guia, consola e fortalece a Igreja.
É significativo que Jesus chamasse os seus discípulos de “filhinhos” (Jo 13.33), um termo repleto de ternura, proteção e intimidade. Isso nos mostra que o relacionamento entre Cristo e seus seguidores não era institucional, mas familiar. Ele não tratava os seus como servos sem valor, mas como filhos amados. E como um pai amoroso, Ele garantiu que não os deixaria à mercê das circunstâncias. A promessa de que não seriam órfãos também aponta para a fidelidade de Deus em toda a história da redenção. Ele nunca abandonou o seu povo. Mesmo nos momentos mais sombrios, o Senhor sempre se fez presente com sua mão estendida.
II – O ESPÍRITO HABITA OS DISCÍPULOS
1. João 20.22.
É crucial considerarmos o contexto que envolve os versículos 21 e 22 do capítulo 20 de João. Nessa ocasião, o nosso Senhor apareceu ressuscitado e glorificado. A passagem bíblica onde se encontram os versículos 21 e 22 começa no versículo 19 (Jo 20.19-23). Assim, o cenário em que Jesus se apresenta ressuscitado, com um corpo glorificado, remete tanto ao contexto anterior (20.1-20) como ao imediato (20.23-31; 21.1-25) de João 20.22.
O versículo de João 20.22 — “E, havendo dito isso, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” — deve ser entendido dentro do contexto teológico e narrativo do Evangelho. O momento é marcante: Jesus, já ressuscitado e com corpo glorificado, aparece aos discípulos. Eles estavam reunidos com as portas fechadas, com medo dos judeus. Sua primeira palavra é de paz (v.19). Em seguida, Ele reafirma sua missão e envia os discípulos: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio” (v.21). A seguir, Jesus sopra sobre eles e declara que recebam o Espírito Santo.
Este gesto de assoprar remete diretamente à criação do ser humano em Gênesis 2.7, quando Deus soprou nas narinas do homem o fôlego da vida. No Evangelho de João, o verbo grego usado aqui (emphysaō) é o mesmo usado em Gênesis.
Isso sugere que esse momento marca uma nova criação, agora espiritual. Cristo, o segundo Adão (1 Co 15.45), concede aos discípulos o início de uma nova vida. Esse ato antecipa o que se cumpriria plenamente no Pentecostes (At 2.1-4). Por isso, esse “sopro” não indica a recepção completa do Espírito, mas sim um gesto simbólico e profético. Ele mostra que a promessa do Consolador estava prestes a se cumprir.
Além disso, esse momento serve como uma transição entre a ressurreição e a ascensão de Cristo. Jesus aparece aos seus discípulos, confirma sua identidade, mostra suas mãos e o lado ferido, e prepara-os espiritualmente para a missão que em breve exerceriam com poder. A sequência de João 20 revela que os discípulos ainda precisavam de convicção e fortalecimento. Tomé, por exemplo, não estava presente e só creria após tocar nas marcas do Mestre (Jo 20.24-28). Isso mostra que, embora tenham recebido uma porção espiritual, o revestimento de poder viria mais tarde, em Atos dos Apóstolos.
O gesto de Jesus também destaca que a presença do Espírito Santo entre os discípulos não seria uma novidade após Pentecostes, mas o cumprimento de algo já prometido. Em João 14.16-17, Jesus havia afirmado que o Espírito Santo estaria com eles e em deles. Agora, após a ressurreição, Ele inicia esse cumprimento ao soprar sobre os discípulos. No entanto, é o Pentecostes que marca o início da missão evangelizadora da Igreja com ousadia, sinais e autoridade — aquilo que Jesus prometera em Atos 1.8.
Assim, João 20.22 nos revela que a obra do Espírito Santo na vida dos discípulos começou de maneira direta e pessoal com o próprio Cristo. O “assopro” do Senhor é um sinal da nova vida, do renascimento espiritual e da autoridade que os discípulos receberiam para continuar a missão redentora. Em Cristo, eles deixaram de ser apenas seguidores e tornaram-se testemunhas vivas do Evangelho, guiadas e sustentadas pelo Espírito Santo.
2. O sentido de “assoprou sobre eles” o Espírito.
O capítulo 20 do Evangelho de João contém um versículo que gera diversas interpretações teológicas divergentes (v.22). No entanto, a Bíblia de Estudo Pentecostal (BEP) oferece uma observação significativa sobre a interpretação deste versículo. Ela esclarece que a palavra grega traduzida como “assoprar” é emphusao, a qual também aparece na versão grega da Bíblia (A Septuaginta) em Gênesis 2.7, significando “fôlego de vida”; e é utilizada em Ezequiel 37.9 no contexto de “assoprar sobre os mortos para que vivam”. Portanto, a expressão presente em João 20.22 sugere que o Espírito foi “soprado” para trazer nova vida, indicando uma perspectiva de regeneração dos discípulos, como uma obra do Espírito ocorrida antes do Dia de Pentecostes.
O verbo grego utilizado, emphysáō, aparece apenas algumas vezes em toda a Bíblia, e sempre em contextos altamente significativos. A primeira e mais clara referência está em Gênesis 2.7, quando Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem se tornou alma vivente. Essa conexão não é casual, mas sim intencional, pois revela que o ato de Jesus naquele momento está diretamente ligado à ideia de uma nova criação, agora espiritual, regenerada pelo Espírito Santo.
A mesma palavra também é encontrada em Ezequiel 37.9, quando o profeta é instruído a profetizar ao espírito, dizendo: “Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam.”
Neste cenário, vemos ossos secos ganhando vida, o que simboliza a restauração espiritual de Israel. Assim, quando Jesus sopra sobre os discípulos, Ele está anunciando que algo novo está sendo iniciado: uma transformação espiritual interior, antecipando a regeneração que seria consumada no Pentecostes.
A Bíblia de Estudo Pentecostal ressalta que esse sopro de Jesus não foi o cumprimento pleno da promessa do derramamento do Espírito, mas sim um ato simbólico e espiritual de renovação interior. Foi uma experiência real, porém distinta da experiência subsequente de Atos 2, onde houve o revestimento de poder para o testemunho público. Em João 20.22, os discípulos recebem um toque pessoal e direto da presença do Espírito Santo, um sinal da regeneração e da nova vida que começava a se manifestar neles. O Espírito Santo, como promessa do Pai, seria plenamente derramado após a ascensão de Cristo (Lc 24.49; At 1.4-5), mas aqui já se vê o início da sua atuação.
O ato de assoprar mostra que o Espírito não é apenas poder ou força, mas uma Pessoa. Ao soprar sobre os discípulos, Jesus transmite a presença viva do Espírito. Essa presença os prepararia espiritualmente para o dia em que seriam cheios do Espírito e enviados a pregar com poder e autoridade. É importante entender a diferença entre regeneração (novo nascimento) e revestimento (capacitação para o serviço). Essa distinção ajuda a compreender melhor a obra do Espírito Santo na vida cristã.
3. Um episódio anterior ao Pentecostes.
Em João 20.22 também se lê: “Recebei o Espírito Santo”. Esta expressão surge como consequência direta da menção a “assoprou sobre eles”, indicando que o Espírito Santo habitou os discípulos naquele momento específico. A partir desse ponto, os discípulos tornaram-se nova criação, completamente regenerados e sendo governados, habitados e vivificados pelo Espírito Santo (Rm 8.9-14; Gl 5.16-26). Posteriormente, o que ocorreu em Pentecostes seria uma segunda obra distinta e capacitadora do Espírito para os discípulos pregarem o Evangelho, começando em Jerusalém até aos confins da terra (At 1.8).
Ao assoprar sobre eles, Jesus não apenas realizou um gesto simbólico, mas promoveu uma ação espiritual real e transformadora. Este momento pode ser compreendido como o início da nova criação espiritual nos discípulos, uma etapa fundamental do plano redentor de Deus. A expressão utilizada por Jesus indica que eles receberam o Espírito de forma regeneradora, sendo vivificados interiormente, o que os tornava agora participantes de uma nova vida — não mais apenas seguidores externos, mas homens espiritualmente regenerados.
A obra realizada ali pelo Espírito não deve ser confundida com o revestimento de poder que se deu no Pentecostes. Em João 20.22, a atuação do Espírito está associada à regeneração, isto é, à conversão genuína e à nova natureza implantada em seus corações.
Como afirmam os textos de Romanos 8.9-14 e Gálatas 5.16-26, é o Espírito quem passa a habitar no interior do crente, guiando, vivificando e produzindo frutos espirituais. O recebimento do Espírito neste episódio demonstra que os discípulos estavam agora sob nova direção, capacitados a vencer as obras da carne e a viver segundo o Espírito. Isso evidencia uma mudança de identidade e de condição espiritual.
É importante perceber que o Pentecostes não anulou esse recebimento anterior do Espírito, mas acrescentou uma nova dimensão à vida dos discípulos. A promessa registrada em Atos 1.8 mostra que o derramamento do Espírito no Pentecostes tinha como finalidade capacitá-los para a missão. Eles já eram nascidos do Espírito, mas agora seriam cheios do Espírito para testemunhar com ousadia, começando por Jerusalém até os confins da terra. Esta distinção entre regeneração e revestimento é essencial para a teologia pentecostal, pois mostra que há mais de uma atuação do Espírito na vida do crente: primeiro, Ele nos regenera e passa a habitar em nós; depois, nos reveste de poder para servir com eficácia.
III – A PROMESSA DO PAI NO DIA DE PENTECOSTES
1. “De repente”.
O aparecimento de Jesus em João 20 refere-se ao período compreendido entre a Páscoa e o Dia de Pentecostes. Após a Ressurreição, o Senhor glorioso aparece aos seus discípulos. Na Páscoa, o cordeiro da expiação foi sacrificado, sendo Jesus o Cordeiro de Deus, conforme estudado ao longo do trimestre. No entanto, cinquenta dias depois da Páscoa, celebrava-se a Festa da Colheita no dia de Pentecostes. Foi ao final deste dia, ainda não concluído, após Jesus ter feito a promessa de recebimento de poder (At 1.4,8), que “de repente” (At 2.2) ocorreu um acontecimento extraordinário: o derramamento do Espírito Santo (At 2.1-4).
Essa expressão “de repente” não indica algo inesperado por parte de Deus, mas sim uma intervenção divina no tempo exato determinado por Ele — o Kairós de Deus. O contexto histórico nos mostra que esse derramamento ocorreu no dia da Festa de Pentecostes, cinquenta dias após a Páscoa. Essa data era celebrada pelos judeus como a Festa da Colheita, e seu simbolismo se torna ainda mais claro com a descida do Espírito Santo: a colheita de almas estava prestes a começar com a pregação do Evangelho.
Durante esse intervalo entre a Páscoa e o Pentecostes, Jesus apareceu várias vezes aos seus discípulos, fortalecendo-lhes a fé e preparando-os para a missão que logo assumiriam.
Essas aparições pós-ressurreição (Jo 20; At 1.3) serviram para consolidar a certeza da ressurreição, bem como para garantir que os discípulos não estavam sozinhos. No entanto, Jesus sabia que eles ainda careciam de poder para testemunhar eficazmente. Por isso, mandou que permanecessem em Jerusalém até que fossem revestidos do alto.
A escolha divina do momento exato para o derramamento do Espírito Santo evidencia o propósito soberano de Deus. O uso da palavra “de repente” não aponta para um acaso, mas para um agir surpreendente de Deus no tempo determinado por Ele. Quando menos se espera humanamente, Deus manifesta o que já estava previsto no Seu plano eterno.Essa manifestação veio acompanhada de sinais visíveis e audíveis — o som de um vento impetuoso e línguas repartidas como de fogo — revelando o início de uma nova fase da atuação divina entre os homens: a era do Espírito Santo.
2. “E todos foram cheios do Espírito Santo”.
Observamos que durante o ato de conversão, o Espírito Santo realiza a Regeneração (Jo 14.17; 16.8-10; Jo 20.22; 2 Co 5.17). Contudo, desde que se dá esta obra regeneradora do Espírito, é necessário que os salvos sejam cheios do Espírito e revestidos de poder para testemunho do Evangelho. Assim sendo, especialmente no Livro dos Atos dos Apóstolos, os teólogos associam “ser cheio do Espírito” ao “Batismo no Espírito Santo”, como descrito quando dizemos: “todos foram cheios do Espírito Santo” e consequentemente “começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.4).
O texto de Atos 2.4 declara que “todos foram cheios do Espírito Santo”, sinalizando o cumprimento da promessa feita por Jesus aos Seus discípulos.
Esse momento não se trata apenas de uma continuação da regeneração que já havia ocorrido anteriormente, como vemos em João 20.22, mas de uma nova e distinta experiência espiritual: o Batismo no Espírito Santo. Embora o Espírito Santo já habitasse nos discípulos desde a regeneração, o que ocorreu em Pentecostes foi uma capacitação sobrenatural para o exercício do ministério e da missão da Igreja. A evidência imediata dessa plenitude foi o falar em outras línguas, conforme o Espírito concedia, um sinal visível e audível da atuação divina.
É necessário compreender que, biblicamente, há uma distinção entre nascer do Espírito e ser cheio do Espírito. O novo nascimento, ou regeneração, é o início da vida cristã. Já a plenitude do Espírito — o ser cheio — refere-se à capacitação para servir, testemunhar e viver em santidade diante de Deus e dos homens. Por isso, Jesus orientou os discípulos a não iniciarem sua missão antes que fossem “revestidos de poder do alto” (Lc 24.49). Essa orientação é reafirmada em Atos 1.8, quando o Senhor declara que o Espírito Santo viria sobre eles e então seriam Suas testemunhas, começando por Jerusalém.
O fato de todos terem sido cheios demonstra que essa experiência está disponível a todo crente salvo. Não se tratava de uma benção restrita aos apóstolos, mas de uma promessa para todos os que cressem.
3. “E começaram a falar em outras línguas”.
O Batismo no Espírito Santo constituiu uma experiência profunda na vida dos discípulos já regenerados em Cristo e essa experiência não se limitou àquele único dia. O cumprimento da promessa abrangeu toda a igreja nascente naquele momento e todas as gerações futuras até à volta de Cristo (At 2.38,39). O falar em outras línguas evidenciou esta obra capacitadora (At 2.11). Apesar de algumas pessoas compreenderem estas línguas nos seus próprios idiomas, eram na verdade expressões espirituais concedidas pelo Espírito que habilitou os discípulos a glorificar as grandezas de Deus. Eram línguas desconhecidas por quem falava, mas compreendidas pelos ouvintes. Assim sendo, as línguas mencionadas por Lucas são evidências físicas visíveis do Batismo no Espírito Santo.
Ao receberem essa promessa do Pai, os discípulos já haviam crido, sido regenerados e recebido o Espírito Santo como penhor da salvação (Ef 1.13; Jo 20.22). No entanto, naquele momento no Cenáculo, foram cheios do Espírito com poder e passaram a falar em línguas conforme o Espírito concedia.
O texto de Atos 2.11 relata que os estrangeiros presentes em Jerusalém ouviram os discípulos “falar das grandezas de Deus” em seus próprios idiomas.
Isso, contudo, não significa que os discípulos conheciam conscientemente esses idiomas terrenos. Eram línguas espirituais e sobrenaturais, inspiradas diretamente pelo Espírito. Em alguns casos, os ouvintes as compreenderam de forma milagrosa. Esse detalhe mostra que os discípulos não aprenderam essas línguas, mas as receberam com o propósito de glorificar a Deus — não de entreter ou confundir.
O falar em outras línguas, portanto, não era um fenômeno estático, limitado ao Dia de Pentecostes, mas uma manifestação que acompanhou o derramamento do Espírito Santo em diversas ocasiões no Novo Testamento. Isso se repete em Atos 10.46, na casa de Cornélio, e em Atos 19.6, entre os discípulos de Éfeso. Em todas essas experiências, o padrão se mantém: o Espírito Santo é derramado, e os crentes falam em línguas como evidência visível dessa obra.
Além disso, Pedro afirma com clareza que a promessa se estende a todos. Não era só para os que estavam ali naquele dia, mas também “a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39). Isso mostra que o Batismo no Espírito Santo, com o falar em línguas, não foi algo exclusivo dos apóstolos ou da Igreja primitiva. Trata-se de uma promessa válida até o retorno de Cristo.
Vale destacar que, embora o dom de línguas tenha manifestações diversas no contexto bíblico — como no uso pessoal (1 Co 14.2) e no uso público com interpretação (1 Co 12.10) — o sinal inicial do Batismo com o Espírito é sempre o mesmo: falar em outras línguas como o Espírito concede.
CONCLUSÃO
A Promessa do Pai tem a ver com a regeneração do pecado e com a capacitação do salvo para testemunhar do Senhor Jesus em todos os lugares. Essa promessa perpassa toda a Bíblia, se manifesta completamente em Pentecostes e está presente até hoje para todos os que se arrependerem e crerem no Evangelho. Até a volta do Senhor Jesus, a Promessa do Pai pode se manifesta na vida do pecador, regenerando-o; na vida do salvo, batizando-o no Espírito Santo.
Fonte: conhecerapalavra