TEXTO ÁUREO
“Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.”
(Jo 13.15)
VERDADE PRÁTICA
A submissão e o serviço são características de maturidade e grandeza no percurso do crescimento espiritual do cristão.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
INTRODUÇÃO
Nesta lição, iremos analisar a narrativa do capítulo 13 do Evangelho de João. Este episódio bíblico retrata o ato de Jesus conhecido como “Lava-Pés”, onde Ele ensina, através do seu exemplo, a relevância da humildade para aqueles que o seguem. Este capítulo oferece-nos uma valiosa lição sobre a humildade na vida cristã. A partir do exemplo de Jesus, somos convidados a servir o próximo de forma humilde.

PALAVRA-CHAVE
HUMILDADE
I – UMA HISTÓRIA REAL SOBRE A HUMILDADE
1. O lava-pés.
Nesta passagem do Evangelho segundo João, quando Jesus lavou os pés, Ele utiliza o exemplo de um servo da casa onde se encontrava com os discípulos para transmitir uma lição sobre a humildade dentro do Reino de Deus. O capítulo menciona que este episódio ocorreu pouco antes da Páscoa (13.1), quando Ele celebrou a última Ceia Pascal com os seus discípulos. Nesta ceia, o nosso Senhor instituiu o que viria a ser conhecido como Santa Ceia ou Ceia do Senhor, um encontro solene que realizamos atualmente. Durante essa ocasião, Jesus rompeu o protocolo tradicional da Ceia Pascal, conferindo-lhe um significado único: ao lavar os pés dos seus discípulos, Ele ilustra a humildade como uma virtude essencial para os seus seguidores na expansão da Igreja pelo mundo.
Ao perceber que Sua hora havia chegado, isto é, o momento de partir deste mundo para o Pai, Jesus toma uma atitude que surpreende a todos os presentes: levanta-se da ceia, tira as vestes, cinge-se com uma toalha e começa a lavar os pés dos discípulos. À primeira vista, essa ação pode parecer simples, mas, na realidade, carrega um peso espiritual e moral que confronta diretamente o orgulho humano e as estruturas de poder convencionais. Em uma cultura onde apenas os servos realizavam esse tipo de tarefa, o Mestre e Senhor toma a posição do mais humilde da casa. Essa atitude nos ensina que, no Reino de Deus, liderança e grandeza não se expressam por autoridade imposta ou posição elevada, mas por serviço abnegado e amor sacrificial.
Pedro, ao ver Jesus inclinar-se diante dele, reage com resistência, dizendo: “Nunca me lavarás os pés” (Jo 13.8). Isso revela o choque entre a lógica do mundo e a lógica do Reino.
Para a mentalidade natural, um líder deve ser servido. No entanto, Jesus inverte essa lógica ao demonstrar que o verdadeiro líder é aquele que serve. Em seguida, ao afirmar que “se Eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (Jo 13.14), Jesus estabelece um padrão de conduta para todos os seus seguidores, não apenas para os doze ali presentes, mas para toda a Igreja até hoje. Não se trata apenas de um ritual ou símbolo cerimonial, mas de uma convocação à prática constante da humildade, do perdão e do cuidado mútuo.
Além disso, o contexto dessa atitude de Cristo é ainda mais impressionante quando consideramos que Judas, o traidor, também estava ali. Mesmo sabendo o que ele faria, Jesus não o excluiu, mas lavou também os seus pés. Isso reforça o ensino de que a humildade cristã não se limita aos que nos são simpáticos ou próximos, mas alcança até aqueles que nos decepcionam ou traem. Esse é o padrão de amor e serviço que Jesus espera de nós. É uma humildade que não depende de reconhecimento ou recompensa, mas que brota de um coração rendido à vontade do Pai e comprometido com a missão do Evangelho.
Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus preparava o coração deles para a grande missão que viriam a cumprir.
Ele estava ensinando que a obra de Deus não seria realizada por meio de disputas por posições, como muitas vezes ocorreu entre eles ao longo do ministério, mas por meio de um espírito de serviço e renúncia. O apóstolo Paulo reforça esse princípio em Filipenses 2.5-7, ao dizer: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus… humilhou-se a si mesmo, tomando a forma de servo.”
2. O desenvolvimento da história.
No capítulo 13, o Mestre tomou uma bacia com água e uma toalha, levantou as pontas das suas vestes e atou-as à cintura. Pegou nas mangas longas e largas das suas roupas masculinas típicas da época e amarrou-as atrás do pescoço. Este gesto era uma forma de “cingir-se” para realizar trabalho, permitindo que tivesse as mãos e as pernas livres para realizar a tarefa do ato de “Lava-Pés”. Este costume nos tempos bíblicos fazia parte dos cuidados prestados aos convidados por parte do senhor da casa. Ao chegar à residência designada para a Ceia, Jesus verificou que não havia nenhum servo disponível para lavar os pés dos convivas.
Ao se levantar da ceia, cingir-se com uma toalha e tomar uma bacia com água, Jesus assumiu deliberadamente a posição de um servo, tarefa que era normalmente atribuída aos escravos da casa. A descrição do Evangelho mostra que Ele amarrou suas vestes e as mangas largas atrás do pescoço, o que indica claramente que estava se preparando para um trabalho manual, algo impensável para um mestre reconhecido por seus discípulos. O gesto de cingir-se tinha um significado muito claro naquele contexto: era a disposição de servir com liberdade de movimento e com dedicação. Jesus não apenas realizou a tarefa — Ele se preparou como um verdadeiro servo faria.
Nos tempos bíblicos, era comum que os anfitriões oferecessem água para que os servos lavassem os pés dos convidados.
Essa prática se fazia necessária devido às condições das estradas de terra e ao uso de sandálias abertas. Assim, lavar os pés não era apenas um ato de hospitalidade, mas uma necessidade cultural e higiênica. No entanto, quando Jesus e os discípulos chegaram à casa onde seria celebrada a Ceia Pascal, não havia nenhum servo designado para esse serviço. E embora nenhum dos discípulos tivesse se oferecido para realizar essa tarefa, Jesus, o próprio Senhor, voluntariamente tomou a iniciativa. Ele não esperou que alguém se levantasse; Ele mesmo deu o exemplo.
Esse detalhe revela algo profundo sobre o caráter do nosso Senhor. Jesus não agiu por impulso ou constrangimento. Ele viu a necessidade e decidiu supri-la, mesmo que a tarefa fosse considerada indigna para alguém da Sua posição. Isso demonstra que a humildade verdadeira não está em palavras ou posturas externas, mas em ações concretas diante das oportunidades diárias de servir. Quando ninguém se dispõe, o verdadeiro servo se levanta e faz. A ausência de um servo naquela ocasião serviu apenas para destacar ainda mais a grandeza moral e espiritual de Cristo.
3. A mudança de paradigma.
Como anfitrião daquela ceia, após o encerramento dessa reunião única e tradicional — surpreendendo os discípulos — o nosso Senhor começou a ensinar através do Lava-Pés que o caminho do Reino de Deus é trilhado com humildade (Jo 13.2,4). Ele mostrou que a humildade representa a verdadeira grandeza espiritual do seguidor do Evangelho. Por isso, utilizou um gesto cotidiano para exemplificar esta atitude humilde. É evidente, neste episódio, que o Cristianismo só se tornará eficaz e alcançará o propósito do Reino de Deus se os valores ensinados pelo Mestre forem realmente praticados pelos seus seguidores. Entre esses valores destaca-se a humildade genuína interiorizada nos corações dos discípulos, recebendo especial atenção do divino Mestre, que era manso e humilde de coração (Mt 11.29).
Ao se levantar durante a ceia, tomar uma toalha e lavar os pés de seus seguidores, Jesus não apenas causou surpresa, mas confrontou diretamente a mentalidade que predominava entre os discípulos. Eles, muitas vezes, discutiam entre si sobre quem seria o maior no Reino (Lc 22.24), revelando que ainda não compreendiam plenamente os valores celestiais. O gesto de Cristo veio como uma lição prática: no Reino de Deus, grandeza não se mede pela posição que se ocupa, mas pela disposição em servir. Isso marca uma inversão completa dos valores terrenos. Enquanto o mundo exalta o poder e a autoridade como símbolos de superioridade, Jesus mostra que é a humildade que revela a verdadeira estatura espiritual de um discípulo.
Essa mudança de paradigma não se limita a uma orientação ética; ela reflete o caráter do próprio Cristo.
Ele mesmo declarou ser “manso e humilde de coração” (Mt 11.29), e esse espírito se tornou a base do discipulado cristão. Ao invés de impor autoridade com rigidez, Jesus liderou pelo exemplo, convidando Seus seguidores a fazerem o mesmo. É por isso que o cristianismo verdadeiro não pode ser vivido apenas na teoria. Ele exige que os valores ensinados por Cristo — como o perdão, o amor, a mansidão e, sobretudo, a humildade — sejam internalizados e praticados em todas as esferas da vida. A eficácia da missão da Igreja depende da disposição de seus membros em viver segundo o modelo de Cristo, e não segundo os padrões do mundo.
Diante disso, é necessário reconhecer que a humildade não é fraqueza, mas força espiritual. Trata-se de uma postura voluntária de submissão à vontade de Deus e de consideração ao próximo. O apóstolo Paulo reafirma esse princípio ao instruir os crentes: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fp 2.3). A humildade vivida de forma genuína evita divisões, supera rivalidades e promove o crescimento do Corpo de Cristo. Ela é o solo onde florescem todas as outras virtudes cristãs.
II – HUMILDADE IMPLICA AUTOCONHECIMENTO
1. Conhecendo a própria natureza.
Jesus tinha plena consciência de quem era, entendia o seu papel e a sua relevância como Senhor e Mestre: “Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus, e que ia para Deus” (Jo 13.3). Neste contexto, Ele deliberadamente trocou o seu papel de Senhor pelo de um simples servo para ensinar aos seus discípulos a importância da humildade. Dessa forma, é essencial que conheçamos a nossa natureza. Devido ao pecado, temos dificuldade em nos submeter aos outros e em nos humilhar; frequentemente preferimos olhar de cima para baixo, raramente de baixo para cima. Assim sendo, Jesus Cristo, na sua posição de Senhor e Mestre, ensina-nos a virtude da humildade: “Eu vos dei o exemplo” (Jo 13.15).
Jesus, consciente de sua identidade divina e missão redentora, reconheceu que o Pai havia “colocado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus, e que ia para Deus” (Jo 13.3). Mesmo assim, Ele trocou seu papel de Senhor pelo de servo, lembrando que nossa verdadeira grandeza nasce do autoconhecimento e da disposição em nos humilhar. Em nosso caso, o pecado nos leva a construir muros de autoproteção e soberba, impedindo-nos de enxergar com clareza quem realmente somos e de reconhecer nossa dependência total da graça de Cristo.
De fato, “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23), e esse diagnóstico nos ajuda a avaliar com sobriedade nossa condição espiritual.
Quando deixamos de lado comparações e vanglórias, abrimos espaço para avaliar a nós mesmos conforme nosso real valor diante de Deus. Paulo alerta sobre o perigo de pensarmos de nós mesmos além do que convém, pedindo que cada um julgue a si mesmo com humildade e critérios objetivos (Rm 12.3). Esse exercício de autorreflexão não desmerece nossos dons, mas evita que o orgulho corrompa nossas atitudes e relações.
Ao percebermos nossa limitação, entendemos também a urgência da graça e do serviço ao próximo. A Escritura assegura que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6), revelando que a humildade não é fraqueza, mas canal pelo qual recebemos a força divina. Reconhecer nossos erros e fraquezas nos torna sensíveis às necessidades alheias e nos leva a agir com compaixão, exatamente como Jesus demonstrou ao lavar os pés dos discípulos e, em seguida, afirmar: “Eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15).
Além disso, a consciência da própria natureza alimenta o espírito de renúncia saudável aos nossos direitos e à nossa vaidade. Pedro, escrevendo aos cristãos dispersos, exorta: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte” (1 Pe 5.6). Isso mostra que o processo de nos conhecermos e nos desapegarmos do ego traz, em contrapartida, elevação e honra vindas do Senhor, que vê o coração e recompensa a humildade sincera.
2. O exemplo deixado por Jesus.
Pense no Verbo Divino, repleto de glória e poder, que abdica da sua majestade para vivenciar a experiência humana. Como menciona o Evangelho: “não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai, que me enviou” (Jo 5.30). Assim sendo, enquanto Verbo Divino, Ele tornou-se carne e uniu-se à nossa condição. Esta compreensão doutrinária sobre a encarnação de Jesus confere um significado ainda mais profundo ao episódio do lava-pés, onde estava o Deus Encarnado lavando os pés de pessoas comuns.
À luz deste exemplo, não deveria ser tão difícil servir aos outros ou submeter-nos à liderança dos nossos irmãos; desviar a nossa própria vontade em favor da vontade divina deveria ser algo natural. No entanto, a nossa natureza pecaminosa torna árdua a prática do serviço e o cultivo da humildade. Por isso mesmo, o apóstolo Paulo faz este apelo: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus” (Fp 2.5-6).
O exemplo deixado por Jesus no episódio do lava-pés é uma das mais profundas expressões da encarnação e da humildade de Deus em Cristo. O Verbo, que estava com Deus e era Deus (Jo 1.1), fez-se carne e habitou entre nós (Jo 1.14), assumindo a forma humana sem jamais perder sua glória divina.
Essa verdade doutrinária torna o gesto de lavar os pés ainda mais impactante. Ali estava o Deus encarnado, ajoelhado diante de seus discípulos, realizando um serviço que, socialmente, era reservado aos mais humildes da casa. Essa imagem transcende a narrativa histórica e se torna uma poderosa lição espiritual: grandeza, à luz do Reino de Deus, não se manifesta por domínio, mas por serviço.
Jesus, mesmo possuindo toda a autoridade no céu e na terra, não buscou fazer a sua própria vontade, mas a do Pai (Jo 5.30). Isso demonstra que a humildade verdadeira nasce da obediência, e não da fraqueza. Ele poderia ter reivindicado sua posição, exigido reconhecimento ou evitado qualquer ação que lhe parecesse inferior. No entanto, por amor e em fidelidade à missão divina, Ele se fez servo, não apenas em palavras, mas em atitudes visíveis e concretas. Esse é o modelo deixado para os seus seguidores. Quando o apóstolo Paulo escreve aos filipenses, ele apela diretamente a essa postura de Cristo: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fp 2.5). O padrão cristão, portanto, não é estabelecido por regras externas, mas por uma disposição interna moldada pelo caráter de Jesus.
Entretanto, servir aos outros, submeter-se à liderança ou mesmo abrir mão de nossos desejos por amor ao próximo é, para muitos, uma tarefa difícil.
Isso se deve à natureza caída do ser humano, que constantemente busca sua própria vontade e se ressente diante da renúncia. A carne resiste ao espírito, e a vontade pessoal quase sempre quer se sobrepor à vontade divina. Mas a presença de Cristo em nós opera uma transformação real. Quando permitimos que o Espírito Santo forme em nós o caráter de Cristo, o que antes era árduo começa a se tornar parte natural da nova vida. Jesus não apenas ensinou a humildade — Ele viveu a humildade em cada passo, desde o nascimento em uma manjedoura até a morte na cruz.
Seguir esse exemplo exige, portanto, mais do que admiração por Jesus; requer imitação. A Igreja do Senhor cresce e se fortalece quando seus membros se dispõem a lavar os pés uns dos outros — metaforicamente falando —, ou seja, quando há disposição em perdoar, servir, aconselhar, suportar e cooperar. Cada vez que um cristão escolhe servir ao invés de ser servido, ele reflete a glória de Cristo e manifesta ao mundo a verdadeira natureza do Evangelho. É assim que a fé se torna prática, e a doutrina da encarnação se transforma em ação concreta dentro da comunidade dos santos.
3. O maior no Reino de Deus.
O nosso Senhor percebia que existiam momentos em que os seus discípulos se preocupavam com quem seria considerado o maior (Lc 22.25-27). Contudo, Ele — sendo Deus e não reivindicando igualdade com Deus (Fp 2.5) — ensinava aos discípulos qual deveria ser o verdadeiro espírito entre eles; especialmente após sua partida: no Reino de Deus prevalece sempre a ideia de “o primeiro serve o último”. Portanto, no Reino de Deus deve haver humildade como verdadeira motivação para o serviço; nunca egoísmo ou interesses pessoais.
Durante o ministério terreno de Jesus, era comum perceber entre os discípulos discussões sobre quem seria o maior no Reino dos Céus (Lc 22.24). Essa inquietação revelava uma visão humana e distorcida da verdadeira grandeza. Enquanto o mundo valoriza posições de destaque, poder e reconhecimento, o Reino de Deus inverte completamente essa lógica. Jesus, conhecendo os corações e os pensamentos dos seus seguidores, aproveitou essas ocasiões para ensinar que a verdadeira grandeza não está em ser servido, mas em servir. Ele mesmo afirmou: “O maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve” (Lc 22.26).
Essa lição é ainda mais poderosa quando observamos quem a ensina. Jesus, sendo Deus, não apenas possuía autoridade para exigir obediência, mas era digno de todo louvor e honra.
No entanto, Ele nunca buscou se exaltar ou fazer valer sua condição divina. Como ensina o apóstolo Paulo, Ele “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo” (Fp 2.6-7). Esse esvaziamento não significou perda de divindade, mas uma demonstração de como a humildade é, de fato, uma característica do próprio Deus. Ele nos mostrou que o serviço, longe de ser uma posição inferior, é a mais alta expressão de amor e liderança no Reino dos Céus.
Portanto, ao falar sobre quem é o maior no Reino de Deus, não se pode usar os mesmos critérios que o mundo utiliza. Jesus ensinou que o primeiro deve ser servo do último, e que o maior é aquele que se dispõe a servir aos demais. Essa verdade confronta diretamente o egoísmo, a busca por cargos, prestígio ou reconhecimento que, infelizmente, também pode infiltrar-se entre os servos do Senhor. Quando o desejo por destaque supera o desejo de obedecer a Cristo, perde-se o foco do verdadeiro Evangelho.
No contexto da Igreja, esse princípio deve ser o alicerce de todas as relações.
Pastores, professores, dirigentes e membros devem pautar suas ações pela humildade e pelo desejo sincero de glorificar a Deus, não a si mesmos. O serviço cristão só tem valor quando motivado pelo amor a Deus e ao próximo. Quando agimos por interesse pessoal ou para conquistar reconhecimento, o nosso esforço perde seu valor espiritual. Mas, quando servimos com humildade, ainda que ninguém perceba, Deus vê e recompensa.
III – HUMILDADE X OSTENTAÇÃO
1. Uma competição silenciosa.
Jesus estava ciente de que, entre os seus discípulos, existia uma competição discreta em busca de proeminência e liderança, como é retratado nos Evangelhos (Lc 9.46,47; Mc 9.34). Já havia preocupações entre eles sobre quem ocuparia o lugar mais destacado num eventual reino de Jesus. O que Jesus demonstra é que tal espírito não deve prevalecer entre seus seguidores. Os líderes na causa do Mestre não podem iniciar a sua jornada de forma errada.
Ainda que não fosse abertamente discutida, havia entre os discípulos uma competição silenciosa por reconhecimento e destaque. Os Evangelhos relatam que, em diversas ocasiões, eles disputavam entre si sobre quem seria o maior no Reino (Lc 9.46-47; Mc 9.34). Esse comportamento revela um entendimento equivocado da missão de Cristo e do propósito do discipulado. A expectativa de um reino terreno e glorioso, com posições de poder e prestígio, ainda influenciava seus corações, mesmo depois de tantos ensinamentos de Jesus sobre serviço, humildade e renúncia. O Mestre, conhecendo seus pensamentos e intenções, não ignorou essa inclinação, mas confrontou-a com amor e sabedoria, deixando claro que no Reino de Deus a lógica é diferente da lógica humana.
Jesus não apenas ensinava com palavras, mas principalmente com atitudes. Quando Ele lavou os pés dos discípulos, mostrou, de forma prática e profunda, que a grandeza espiritual não se mede pela posição ocupada, mas pela disposição de servir.
Seu gesto desarmou qualquer tentativa de exaltação própria e expôs a vaidade silenciosa que habitava no coração de alguns seguidores. Naquele momento, o próprio Senhor se fez servo, demonstrando que a liderança no Reino dos Céus começa com humildade e disposição para se colocar abaixo dos outros. Qualquer tentativa de se destacar ou se impor pela força contraria diretamente os princípios do Evangelho.
É importante observar que Jesus não condenou o desejo de liderança em si, mas sim a motivação errada por trás dele. No Reino de Deus, liderar é servir, e quem almeja tal posição precisa, antes de tudo, aprender a humilhar-se. Como está escrito: “E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos” (Mc 10.44). O padrão estabelecido por Cristo desmantela qualquer ideia de competição carnal entre os irmãos. Ele deixa claro que a liderança que agrada ao Pai é aquela que nasce do coração humilde e disposto ao sacrifício.
Por isso, nenhum líder na causa do Mestre deve iniciar sua jornada com espírito de disputa. A obra de Deus não é lugar para vaidades, rivalidades ou interesses pessoais. Quando a motivação é egoísta, ainda que se faça muito, falta o essencial: a aprovação divina. A liderança verdadeira surge da obediência, da renúncia e da disposição de seguir os passos de Jesus, mesmo que isso signifique lavar os pés de quem está ao lado. Quem deseja ser usado por Deus deve iniciar a caminhada com os olhos voltados para o exemplo de Cristo e o coração disposto a servir sem buscar reconhecimento humano.
2. O caminho humilde de Jesus.
Através do episódio do lava-pés, nosso Senhor revelou que o caminho dos seus discípulos não se alicerça no sucesso material, na notoriedade ou na ambição, mas sim na capacidade de servir o próximo de maneira humilde. Desta forma, a Igreja de Cristo estaria em desacordo com a dinâmica mundana da ostentação e da presunção. O serviço amoroso e humilde é característico da Igreja de Cristo. Assim, não haveria espaço para disputas, a fama seria deixada de lado e a ambição afastada. Por meio do exemplo modesto de Jesus no episódio do lava-pés, as consciências dos discípulos foram despertadas (Jo 13.13,14).
Quando os discípulos presenciaram o Senhor se inclinando para lavar seus pés, perceberam que não estavam diante de um líder comum, mas de alguém que veio para transformar os valores do mundo. A Igreja de Cristo, portanto, precisa constantemente retornar a esse modelo e reavaliar sua postura. Quando o crente se deixa influenciar pela busca de status, reconhecimento e projeção pessoal, ela se afasta do modelo deixado por Jesus.
O serviço humilde é, portanto, uma marca indispensável da verdadeira Igreja. Não se trata de uma opção entre tantas, mas da essência do seguimento cristão.
Onde reina a humildade, não há espaço para disputas de ego, divisões por vaidade ou rivalidades pelo poder. A ambição pessoal é vencida quando o amor a Deus e ao próximo ocupa o centro da vida cristã. O que Jesus fez naquela noite pascal não foi um simples gesto simbólico, mas uma demonstração prática do que Ele espera de todos os seus discípulos. A Igreja precisa cultivar esse espírito de serviço contínuo, de forma que cada membro esteja disposto a se sacrificar pelo outro, contribuindo para a edificação do corpo de Cristo.
Além disso, é importante destacar que o exemplo de Jesus no lava-pés não foi uma lição isolada, mas um reflexo de toda a sua missão. Desde o nascimento em um estábulo até a morte na cruz, sua trajetória foi marcada por renúncia, simplicidade e serviço. Ele mesmo afirmou: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10.45). O lava-pés é um retrato claro desse espírito, um chamado à Igreja para que rejeite a lógica da exaltação pessoal e abrace o caminho humilde do serviço.
3. Um convite à humildade.
A vida e os ensinamentos do nosso Salvador constituem um convite para aprendermos com Ele sobre mansidão e humildade (Mt 11.29). Nesse sentido, somos convidados por Jesus a cultivar um coração humilde, desprovido das armadilhas da ambição, da ostentação e do egoísmo. Somos chamados a partilhar dos mesmos sentimentos que pautaram a sua vida e ministério terreno (Fp 2.5-8). Assim sendo, a lição do lava-pés é um apelo para vivermos uma existência de humildade diante de Deus em todas as circunstâncias da vida.
O cristão é chamado a negar a si mesmo, tomar a sua cruz e seguir o Mestre (Mt 16.24). Esse negar a si mesmo envolve, muitas vezes, abandonar o desejo de reconhecimento, o impulso por aplausos e o anseio por status. O mundo ensina a competir, a se destacar e a se promover, mas Cristo ensina a servir, a ceder e a colocar o outro em honra superior a si mesmo (Rm 12.10). A humildade cristã nasce do entendimento de quem somos diante de Deus: pecadores alcançados pela graça, servos de um Senhor que nos amou primeiro e que espera que vivamos como Ele viveu. Por isso, o apóstolo Paulo exorta os crentes a terem o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, sendo Deus, se esvaziou, tornando-se servo e humilhando-se até a morte de cruz (Fp 2.5-8).
Essa humildade ensinada por Jesus não se limita aos momentos de culto ou aos ambientes religiosos; ela deve estar presente no lar, no trabalho, nas relações pessoais, em todas as circunstâncias da vida.
Trata-se de uma postura constante de submissão à vontade de Deus e de respeito ao próximo. O lava-pés simboliza o compromisso diário de colocar-se à disposição do outro, oferecendo amor prático, ajuda sincera e palavras que edificam. Viver com humildade não é pensar menos de si mesmo, mas pensar menos em si mesmo, como diria um princípio cristão muito citado.
CONCLUSÃO
Nesta lição, abordamos a relevância da virtude da humildade para um melhor autoconhecimento. Deste modo, começamos a perceber os nossos limites e aquilo que nos diz respeito ou não. Compreendemos que a humildade se opõe a uma cultura de ostentação, à busca desenfreada pela fama e a outros objetivos que nada têm a ver com a simplicidade do Evangelho. Dessa forma, podemos seguir o caminho humilde do nosso Senhor.
Fonte: conhecerapalavra
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