
Com mais de 18 milhões de seguidores em suas redes sociais, o religioso defende pautas que também estão na agenda evangélica
Ana Paula Drumond Guerra
Em meio à polarização que marca o cenário religioso e político brasileiro, um sacerdote carmelita de 38 anos que prega votos de austeridade, obediência e oração, vem despontando como fenômeno digital e acumulando polêmicas ao se tornar uma peça central em mais um embate ideológico que transcende a religião. Trata-se de Gilson da Silva Pupo Azevedo, mais conhecido como Frei Gilson.
Com transmissões de madrugada que misturam oração, música e linguagem acessível, o religioso paulistano conquistou 18 milhões de seguidores e um feito raro: unir católicos e evangélicos em torno da mesma devoção. Seu ministério, ‘Som do Monte’, acumula 1,5 milhão de ouvintes mensais no Spotify, e seu alcance nas redes sociais disparou nos últimos meses.

Só entre a terça-feira e quinta-feira do Carnaval deste ano Frei Gilson ganhou 1,35 milhão de seguidores no Instagram. No YouTube, foram 710 mil novos inscritos, saindo de 6,05 milhões para 6,75 milhões. No TikTok, ganhou 180 mil novos seguidores, chegando a 856,6 mil.
Trajetória
A trajetória religiosa de Frei Gilson começou cedo: aos 14 anos já tocava violão e, quatro anos depois, ingressou na vida clerical, sendo ordenado padre em 2013. Hoje, o católico se tornou um fenômeno da internet, mas também um personagem central numa acirrada disputa político-ideológica.
Durante as suas lives, o Frei já declarou que o papel da mulher é se “auxiliar dos homens” e já pediu pelo “livramento do flagelo do comunismo”. O nome dele também foi citado em investigações da Polícia Federal sobre os eventos de 8 de janeiro – embora não tenha sido indiciado.
Com a popularidade em alta, o frei se tornou alvo de críticas por parte de militantes da esquerda, que o acusam de ser vinculado ao bolsonarismo e a extrema-direita. No dia 9 de março, o ex-presidente Jair Bolsonaro saiu em defensa do sacerdote.
“Frei Gilson cada vez mais se apresenta como um fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador. Por isso, cada vez mais, vem sendo atacado pela esquerda. A fé cristã nunca se curvou à perseguição e não será diferente agora. Minha solidariedade a ele e a todos que defendem os valores de Deus e da família – Mateus 5:10-12″, escreveu o político.
Dados da consultoria Palver revelam que, após esse episódio, as menções ao religioso se multiplicaram por 10 em poucos dias, saltando de 5 para 55 citações a cada 100 mil mensagens. O apoio de figuras públicas como os deputados Nikolas Ferreira e Carlos Jordy fortaleceu sua imagem no campo conservador, enquanto provocava reações imediatas no espectro político oposto.
Embate com Padre Júlio
O posicionamento do Frei deflagrou recentemente mais uma polêmica, desta vez envolvendo o Padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com populações vulneráveis. Enquanto frei Gilson enfatiza a conversão pessoal e a disciplina espiritual como caminhos para a caridade, Padre Júlio defende uma abordagem mais focada na ação social imediata.
A discussão ganhou contornos públicos quando Lancellotti questionou durante uma missa realizada no domingo 23 de março: “Não adianta rezar o terço às 4 da manhã e depois chutar um morador de rua”. O comentário, embora não nomeasse diretamente frei Gilson, foi entendido como uma crítica ao que alguns veem como uma espiritualidade desconectada da prática concreta.
Paradoxalmente, enquanto se torna figura central em debates políticos, frei Gilson segue atraindo fiéis de diversas tradições cristãs. Sua capacidade de apresentar o rosário com linguagem acessível e elementos musicais familiares aos evangélicos mostra como as fronteiras religiosas estão se tornando mais permeáveis no Brasil digital.
Fonte: Comunhão.