
O que há por trás dessa frase aparentemente inofensiva é a urgência de uma revisão cultural e espiritual sobre o valor do trabalho materno.
Por Patrícia Esteves – Revista Comunhão
Há um tipo de trabalho que raramente aparece nos holofotes, mas sem o qual nenhuma sociedade pode prosperar. O cuidado cotidiano, silencioso e persistente, que acontece dentro das quatro paredes de um lar, é frequentemente subestimado. “Sou apenas uma dona de casa”, dizem algumas mulheres, com um tom que mistura humildade, resignação e (muitas vezes) autodepreciação. Mas o que há por trás dessa frase aparentemente inofensiva é a urgência de uma revisão cultural e espiritual sobre o valor do trabalho materno.

A frase se torna ainda mais dolorosa quando vem de mães que se dedicam integralmente aos filhos e à casa, como se esse esforço não bastasse. “Eu nunca mais quero ouvir outra mulher dizer: ‘Sou apenas uma dona de casa’”, desabafa Cathe Laurie, esposa do pastor Greg Laurie e palestrante nas Cruzadas da Harvest, em sua reflexão publicada pela Harvest Christian Fellowship.
A fala de Cathe parte de uma convicção bíblica e visceral sobre o peso e o privilégio da maternidade. “A maternidade, apesar de sua glória confusa, é o trabalho mais importante do mundo”, declara.
Há um paralelo entre a maternidade e a missão de Cristo, pois assim como Jesus veio através do ventre de uma mulher, a maternidade participa, de forma misteriosa, desse plano divino de transformação. A maternidade molda não apenas filhos, mas também mães.
A mulher que comanda a base
Entre a perda do sono e os pratos acumulados, há uma batalha silenciosa sendo travada: a do reconhecimento. Em uma sociedade que atribui valor ao cargo nas empresas e ao tamanho da conta bancária, a mulher que comanda uma casa, cuida de filhos, gerencia orçamentos e mantém a saúde emocional de uma família muitas vezes se sente invisível.
“Você está se unindo a Deus para ajudar a moldar a próxima geração. Você é a CEO de uma pequena e influente empresa chamada ‘família’”, afirma Cathe Laurie. É uma metáfora precisa, porque ser mãe e dona de casa envolve liderança, tomada de decisões estratégicas, gestão de tempo e, acima de tudo, visão de longo prazo.
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Essa função não tem folgas nem bônus de final de ano, mas entrega dividendos que se estendem para além desta vida. “Embora a maternidade não venha com um salário ou um plano de previdência privada, ela traz dividendos que se pagam pela eternidade”, brinca.
Formar imagem e semelhança
A Bíblia afirma que os filhos são herança do Senhor (Salmo 127:3). No Novo Testamento, Paulo escreve que a mulher será salva “dando à luz filhos, se permanecer na fé, no amor e na santidade, com domínio próprio” (1 Timóteo 2:15). Apesar das interpretações controversas, Cathe Laurie faz uma leitura sensível e prática. “Este versículo não está dizendo que as mulheres conquistam a salvação por terem filhos (graças a Deus)! Significa que o processo da maternidade nos santifica”.
Não se trata de glamourizar a exaustão, mas de enxergar nela uma ferramenta de transformação espiritual. A maternidade torna as mulheres mais humildes, mais resistentes, mais sábias e mais dependentes da graça de Deus, segundo Cathe.
Sacrifício, redenção e alegria
No vai e vem das fraldas, nos gritos da adolescência e nas preocupações intermináveis, também habita a alegria. É possível que ela esteja soterrada sob pilhas de roupas para passar ou em meio a um almoço queimado no fogão. Mas ela está lá, como lembra Cathe Laurie. “Ela pode estar escondida no caos de uma crise de choro infantil, mas está lá no som da primeira risada do seu bebê. Na maneira como seu filho estende a mão para você quando está com medo”.
Esses momentos são lampejos da graça no cotidiano. São provas de que, mesmo nas rotinas aparentemente banais, há beleza e sentido. Maternidade não é apenas biologia, é discipulado. Cada correção, cada oração sussurrada na madrugada, cada gesto de consolo e paciência é uma semente plantada na eternidade.
Chamado sagrado, não cargo menor
O que fazemos importa e o que escolhemos valorizar como sociedade, mais ainda. Quando uma mulher diz que é “apenas” dona de casa, talvez esteja repetindo um discurso que ouviu tantas vezes que se tornou verdade para ela. Mas é hora de reverter essa lógica.
“Você não está simplesmente criando filhos; você está criando portadores da imagem de Deus, futuros transformadores do mundo”, insiste Cathe. O que está em jogo é mais do que autoestima ou reconhecimento social. Está em jogo a clareza de um chamado que Deus mesmo confiou às mulheres; o de colaborar com Ele na formação do caráter de seres humanos.
Por isso, da próxima vez que alguém perguntar o que uma mãe faz, Cathe Laurie sugere uma resposta simples: “Meu trabalho é moldar o futuro”.