Texto-base da Escola Dominical?
A revista da EBD não é infalível Por Tiago Rosas
O apóstolo Paulo nos exorta a examinar tudo e reter o que for bom.
Toda Escola Dominical que se preza adota um bom currículo de educação cristã, de modo a contemplar as diferentes faixas etárias e formações culturais do alunado, sempre trazendo temas relevantes que cooperem para a formação do caráter cristão, preparo para o serviço sagrado e atuação consciente na sociedade como “luzeiros do mundo” (Fp 2.15).
Bons currículos de Escola Dominical são formados por bons ensinadores, versados nas escrituras e nas ciências da educação, como Pedagogia, Letras, História, Filosofia, etc., mas especialmente na Teologia, já que estamos falando de ensino sobre as coisas de Deus. E como somos felizes por mestres ou doutores vocacionados por Deus (Ef 4.11) e que também trazem qualificações acadêmicas para oferecer-nos materiais didáticos de qualidade para o bom funcionamento da EBD! Estes mestres e mestras que se esmeram no ensino são realmente dignos de nosso respeito bem como carentes de nossas orações.
É bom para o professor e para o aluno terem a certeza de estar usando uma revista da EBD que preze por uma exposição bíblica correta, por uma linha teológica ortodoxa, por uma hermenêutica bem fundamentada e por um trabalho gramatical bem feito. Todavia, como toda produção humana, a revista da Escola Bíblica Dominical também é passível de erros.
Claro que os erros de um comentarista ou da equipe de redação, sejam erros de aspecto gramatical, teológico ou doutrinário, não podem ser maximizados pelo leitor (seja professor ou aluno) para servir de menosprezo ao comentarista, à editora ou à igreja que usa aquela revista. Quem não comete erros atire a primeira pedra!
Até mesmo na hora de apontar um erro e corrigi-lo devemos ser conduzidos por um espírito de mansidão e não de soberba ou contenda, como se nós fôssemos inerrantes e infalíveis. Com Jesus devemos aprender a ser “manso e humilde de coração” (Mt 11.29), e como disse Tiago, irmão do Senhor, a verdadeira sabedoria é demonstrada no bom trato, com “mansidão de sabedoria” (Tg 3.13).
Mas é bom que o professor e também o aluno, enquanto respeitem as credenciais e o trabalho do comentarista e de toda equipe técnica que dá o acabamento final à revista, estejam cientes de que somente a Palavra de Deus, tal como escrita por seus autores originais, é que está isenta de erros de quaisquer ordens, visto ter sido ela escrita sob inspiração e supervisão do Espírito Santo.
Este mesmo grau de inspiração para produção de livros bíblicos canônicos, que são a regra de fé e prática para a Igreja, não existe sobre os demais autores cristãos, senão apenas sobre aqueles aproximados quarenta homens que escreveram os livros da Bíblia. Assim, ainda que bem-intencionados, dirigidos pelo Espírito e supervisionados por uma equipe de profissionais qualificados, comentaristas de Lições Bíblicas podem falhar, e não raro falham.
Dizer isso pode parecer comum demais para os veteranos e mais experientes no ensino da Palavra. Todavia, ainda se vê entre os professores e alunos menos experientes uma supervalorização da revista da Escola Dominical, que quase beira a canonização. Veja que de mim mesmo tenho uma experiência para contar, ainda que eu não seja um escritor de revistas para a EBD. Mas em minha experiência como professor, certa feita fiz uma afirmação em sala de aula que causou uma pequena controvérsia entre meus jovens alunos. Ao ser indagado sobre o que achava daquela questão, um dos moços presentes apenas respondeu: “Se o professor diz que é assim, então assim é”. Falou aquilo com ingênua confiança, embora eu lhe fosse grato por dar-me credibilidade.
Aquela situação ficou martelando na minha cabeça por vários dias, e de quando em quando ela ainda me assombra, sobre como as pessoas são propensas a dar total credibilidade a outras que elas julgam serem mais conhecedoras do assunto. Isso acontece com relativa frequência na ministração das aulas dominicais, quando professores ou alunos acatam certo posicionamento do comentarista da revista (ou de um outro teólogo, escritor, professor, etc.), mesmo que este posicionamento seja duvidoso ou flagrantemente insustentável. Não deve ser assim, pois o valor da EBD está em ser um espaço de reflexão inteligente e aprendizado contínuo, não de propagação ingênua ou reprodução acrítica de posicionamentos pessoais deste ou daquele teólogo.
O apóstolo Paulo nos exorta a examinar tudo e reter o que for bom. O curioso é que ele fez essa recomendação à igreja de Tessalônica (1Ts 5.21), e sabemos que noutro momento esta igreja foi tida como menos nobre que a igreja de Beréia, justamente pela falta de exame escriturístico por parte dos crentes tessalonicenses daquilo que lhes era ensinado. Os de Beréia, ainda que ouvindo o apóstolo Paulo e seus companheiros, “de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17.11). Então Paulo agora recomenda aos crentes de Tessalônica para que também examinem tudo, isto é, investiguem, esquadrinhem, discirnam com entendimento e sabedoria aquilo que ouvem (ou leem). Esta regra vale igualmente para nós hoje.
Visto que teólogos, por mais qualificados que sejam, são passíveis de erros, o professor não pode ser um mero reprodutor em sala de aula do conteúdo que está na Lição, antes deve examinar e refletir o que está escrito, conferindo sempre à luz das Escrituras Sagradas e também das informações que estão disseminadas nos livros e em outras fontes de consulta para certificar-se de estar servindo aos alunos informações corretas e conhecimento verdadeiro.
Se detectar o erro, deve prontamente corrigi-lo, respeitando e compreendendo as limitações do autor, e sempre seguindo “a verdade em amor” (Ef 4.15). Sem jamais esquecer que todos, absolutamente todos somos aprendizes na Palavra de Deus.